domingo, 26 de fevereiro de 2012
O Preço do Amanhã e a metáfora do cotidiano (cinema e educação)
O trailer acima, trata-se de O Preço do Amanhã, filme com direção de Andrew Niccol e ótima interpretação de Justin Timberlake (ator e cantor), que é um desses momentos criativos, provocadores e inteligentes de um cinema, cada vez mais preocupado com efeitos especiais do que com uma boa história que nos faça pensar profundamente no tempo presente, ainda que a história nos remeta a um futuro não "tão tão distante" assim... O enredo é feito de diversas camadas de interpretação e reflexão. Uma espécie de Matrix.. Mais um filme com o marcador CinEducação.
Veja resumo abaixo, extraído do You Tube:
"No mundo de "O Preço do Amanhã", tempo virou moeda. As pessoas param de envelhecer aos 25 anos. Os ricos conseguem 'ganhar' décadas de uma só vez, podendo até se tornar imortais. Os outros têm de pedir esmolas, pegar emprestado ou roubar mais horas pra chegar vivo até o final do dia. Ao ser falsamente acusado de assassinato, Will Salas terá de provar sua inocência e descobrir um jeito de destruir este sistema."
Análise do Educa Tube sobre o filme:
O PREÇO DO AMANHÃ, trata das relações entre o Capital e o Trabalho, em que o Tempo é a moeda corrente. Trabalho de muitos, riqueza de poucos. Neste mundo idealizado, as pessoas usam relógios digitais implantados sobre a pele que servem para calcular o tempo em sentido decrescente que cada um possui e serve de moeda de troca para aquisição de bens, serviços e a própria manutenção da vida. Sem tempo não há vida, e quando o relógio é zerado a vida cessa automaticamente sem chances de retorno. É uma corrida contra o tempo para os assalariados e um passeio sem pressa para os que são afortunados pelo Tempo. Assim como na vida real, as pessoas percebem pelo modo de andar quem é quem: os pobres vivem correndo, os donos do Tempo sem pressa alguma.
Durante o filme, algumas frases levam a reflexão: "os pobres morrem e os ricos não vivem", diz uma personagem. Os assalariados vivem sem perspectivas, vivendo o hoje para garantir o amanhã. Trabalham muito hoje para garantir o mínimo de mais um dia de sobrevivência. São todos sobreviventes, confinados em seus guetos, impedidos de atravessar a fronteira que leva a Zona do Tempo, que cobra pedágio de 1 ano de vida a cada parada e são várias até chegar ao topo do poder e da riqueza. O que impede de um simples mortal chegar até lá, justamente pela falta de "tempo".
Até ai, alguma semelhança com fatos e pessoas do mundo real?
Tempo literalmente é dinheiro nesse mundo futuro. Somente nesse mundo e nesse futuro? Um minuto de tempo equivale a uma ligação telefônica, descontado do relógio digital implantado no braço; 1 ano igual a uma noite em uma suíte hotel de luxo; 59 anos paga um valioso carro importado. A falsa eternidade, adquirida através da exploração do capital pelo trabalho. Logicamente que os abonados pelo Tempo não têm 59 anos seus para adquirir um carro luxuoso, mas sim a acumulação da mais valia, do que deveria ser pago de forma justa pelo trabalho semi-escravo do trabalhador. Dessa acumulação indevida, de empresas que não cumprem leis trabalhistas, contando com a inércia da Justiça, é que se formam grandes fortunas. Já dizia ditado popular: "O trabalho enobrece o homem e enriquece o patrão". Brincadeiras à parte, o assunto é serio, e cada vez mais a distância entre mortais e imortais é calculada pelo Tempo/Riqueza que uns e outros possuem ou não. Pagar um milhão de reais mensais a jogador de bola e dividir esse valor pelo salário mínimo nacional que equivale a R$ 622,00 significa 1.607,72 salários. Se levarmos em conta que a expectativa de vida do brasileiro que é de 73,2, e convertermos isso em meses, são 876,2 meses (arredondei para 876) equivale a 1,84, ou quase 2 vidas inteiras de um trabalhador.
É a falsa eternidade, pois ainda que um carro de luxo equivalha a 59 anos de vida, no filme, se colocássemos todo o patrimônio de um milionário e o convertêssemos em tempo de vida, logicamente caracterizaria a eternidade, se comparado com o dia a dia suado de cada trabalhador que mal ganha para a própria subsistência digna e é preciso, como no filme, atingir cada vez mais uma cota, o que remete ao tempo da Inconfidência Mineira, em que as taxas eram aumentadas mais e mais (vide História do Brasil e a derrama).
Na Matrix Real, riqueza existe suficiente no mundo, que se compartilhada entre todos, daria uma vida digna e todos, sem pobre nem ricos. Estudos comprovam isso. Utopia? Para o modelo atual, calcado no petróleo, armas, drogas e corrupção, logicamente uma Utopia Selvagem... Praticamente impossível de ser revertida. Entretanto, recursos existem, o que não existe é a devida distribuição justa de renda, e a devida valorização do trabalho pelo capital...
Um filme para trabalhar questões históricas e matemáticas como as quatro operações normais (adição, subtração, multiplicação e divisão), além de proporção, conversão, associação entre tempo e dinheiro, propondo aos alunos esse exercício de conversão entre quanto tempo é necessário para adquirir tal bem ou serviço, enfim, várias possibilidades de uso matemático com alunos das séries finais do ensino fundamental e alunos do ensino médio. Esse um dos exemplos de uso pedagógico deste filme que pretendo rever em breve, pois propõe uma outra Matrix para a sociedade...
Seria interessante converter, com base no salário mínimo, outros bens e serviços, e convertê-los em tempo ao invés de dinheiro. Ver quanto da vida de um trabalhador custa uma prosaica garrafa de água, uma refeição, uma passagem de ônibus, uma calça jeans, uma camiseta, etc. dadas as diferenças de preços e não ser professor de matemática, deixo aos colegas essa trabalho e indicação de projeto, unindo cinema e educação. :-))
Posterior a publicação desta postagem vi notícia de jornal que vem ao encontro ao tema deste post, que calcula "quantos dias de trabalho são necessários para comprar um bem".
Veja quantos dias de trabalho são necessários para comprar um bem
Por fim, já que o tema desta postagem é o Tempo, segue abaixo a canção Oração do Tempo, de autoria de Caetano Veloso, com interpretação magistral de Maria Bethânia, que introduz versos de Vinícius de Moraes, antes da referida canção. Um efeito mais que especial...
http://youtu.be/jHTcEj_Am2E
Veja abaixo também o videoclipe Savin Me, da banda Nickelback, que é trilha sonora do filme In Time (O Preço do Amanhã).
Muito boa sua análise ^^
ResponderExcluirGrato :-))
ResponderExcluirSó acho que você deveria ter mais respeito, e não chamar atletas profissionais de "jogadores de bola". E se você não sabe, são muito poucos jogadores que ganham 1 milhão de reais, e se eles ganham isso é porque batalharam muito, ao contrário do que muitos pensam, não é fácil ser jogador, se fosse qualquer um seria. Se você quer postar um texto dando lição de moral não deveria criticar uma profissão digna. Fica a dica!!
ResponderExcluirNão costumo responder anônimos, ainda mais quando criticando quem supostamente deu lição de moral (onde? há apenas uma comparação, nenhuma lição! Se alguém quis dar lição e fazer uma crítica sem levar em conta o contexto. Não desmereci nenhuma profissão e se fiz crítica foi ao salário absurda, sim, para alguns poucos privilegiados que ganham fortunas. Fiz apenas uma comparação e equivalência de salários. Professores também trabalham muito e nenhum ganhará um milhão. Fica a dica. Releia com outros olhos...
ExcluirProfissão digna é do trabalhador assalariado que trabalha duro o mês inteiro pra por comida na mesa e recebe 1000 reais que não sobra quase nada. Agr pagar 1milhão de reais pra jogador de futebol pra correr atrás da bola pode mas pagar bem o trabalhador não pode pq ele não trabalha duro igual um jogador de bola kkkkk me poupe Vaii...
ExcluirMinha conclusão é que temos o momento agora para sobreviver, que não devemos nos preocupar com o amanhã isso massacra a nossa existência, e a política é dona do sistema, pois para manter uma empresa no Brasil é necessário pagar muiitos impostos, e quem paga o salário do rico é o pobre.
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