segunda-feira, 15 de outubro de 2012
A Sonata, de Erico Verissimo (música, literatura, cinema e educação): episódio fantástico do seriado Brava Gente [2001]
A imagem acima trata-se do episódio A SONATA, do seriado Brava Gente (2001), da TV Globo, curta-metragem inspirado no conto Sonata, de Erico Veríssimo, que me foi gentilmente indicado pelo Facebook do colega e amigo Tiago Tresoldi, de Porto Alegre, RS, Brasil, após comentário que fiz em aula sobre o livro Aura, de Carlos Fuentes, que pelo aspecto fantástico, lembrava muito o conto de escrito pelo escritor brasileiro. Em ambos, um anúncio de jornal os leva a uma estranha casa, onde encontram o amor. Teodoro, professor de piano em Sonata, se apaixona pela jovem Adriana; Felipe, escritor contratado para terminar memórias do falecido marido de dona Consuelo, e que se apaixona por sua sobrinha Aura.
O referido curta pode ser assistido via link abaixo para o site Memória Globo:
A SONATA - BRAVA GENTE - MEMÓRIA GLOBO
A Sonata, com direção de Jaime Monjardim, tendo como protagonistas os atores Angelo Antonio (o músico Teodoro) e Mariana Ximenes (a aluna de piano Luciana, ao invés de Adriana, como no conto de Verissimo), faz uma bela reconstituição de época que serve para professores de Arte, História, Literatura, Língua Portuguesa, Música etc trabalharem interdisciplinarmente.
Pretendo nesta postagem focar mais na questão da educação, já que é o objetivo maior do Educa Tube indicar vídeos e outros recursos tecnológicos que possam ser utilizados ou adaptados ao fazer pedagógico.
A história de Sonata (o conto) inicia com o professor de piano, que mora em Porto Alegre, assim relatando sua vida:
"A história que vou contar não tem a rigor um princípio, um meio e um fim. O Tempo é um rio sem nascentes a correr incessantemente para a Eternidade, mas bem se pode dar que em inesperados trechos de seu curso o nosso barco se afaste da correnteza, derivando para algum braço morto feito de antigas águas ficadas, e só Deus sabe o que então nos poderá acontecer. No entanto, para facilitar a narrativa, vamos supor que tudo tenha começado naquela tarde de abril. Era o primeiro ano da Guerra e eu evitava ler os jornais ou dar ouvidos às pessoas que falavam em combates, bombardeios e movimentos de tropas. "Os alemães romperão facilmente a linha Maginot" assegurou-me um dia o desconhecido que se sentara a meu lado num banco de praça. "Em poucas semanas estarão senhores de Paris." Sacudi a cabeça e repliquei: "Impossível. Paris não é uma cidade do espaço, mas do tempo. É um estado de alma e como tal inacessível às Panzerdivisionen." O homem lançou-me um olhar enviesado, misto de estranheza e alarma. Ora, estou habituado a ser olhado desse modo. Um lunático! É o que murmuram de mim os inquilinos da casa de cômodos onde tenho um quarto alugado, com direito à mesa parca e ao banheiro coletivo. E é natural que pensem assim. Sou um sujeito um tanto esquisito, um tímido, um solitário que às vezes passa horas inteiras a conversar consigo mesmo em voz alta. "Bicho-de-concha!" — já disseram de mim. Sim, mas a essa apagada ostra não resta nem o consolo de ter produzido em sua solidão alguma pérola rara, a não ser... Mas não devo antecipar nem julgar."
Neste contexto (o conto enncotra-se no livro Fantoches, de 1932, mas na vídeo vai mais além), a personagem principal tem como passatempo ir à biblioteca pública, folhear velhos jornais. Um dia lê anúncio de jornal, datado de 1912, procurando professor de piano. Ao descobrir que a rua mudou de nome mas a casa antiga, com um anjo triste no jardim, ainda existe, movido pela imaginação e a curiosidade, o professor vai ao local. Por algum mistério, é atendido por uma empregada junto ao portão e adentra na casa, sendo recebido por Safira, mãe de Luciana, a jovem a quem ele irá ensinar a tocar piano.
Apaixonado, o professor faz literalmente uma viagem no tempo, escrevendo para a jovem por quem se apaixona, uma sonata em lá menor. A música é uma linguagem universal. A arte igualmente. Pensando na arte e na cultura, na música e na literatura como meios de passar um conteúdo educacional, o Educa Tube propõe um outro tipo de viagem no tempo, através da história, da música e da literatura a outros educadores que utilizem filmes, curtas-metragens, fragmentos de vídeos e tudo mais que possa ilustrar um tema ou projeto.
O professor que se apaixona pelo seu trabalho e consegue ir de encontro ao tempo do aluno, através destes recursos, promoverá outras viagens no tempo, encantando o aluno para todo um acervo artístico e cultural, histórico e literário que podem promover debates, pesquisas e reflexões no ambiente escolar.
O abismo do tempo que a personagem Teodoro diz separá-lo de sua musa Luciana, também deve ser transposto por todo educador nascido no século XX, trabalhando em escolas ainda com o feitio do século XIX, mas com alunos nascidos no século XXI.
Diz Teodoro, ao final do vídeo (não querendo antecipar seu final àqueles que não leram o conto, nem assistiram ao episódio em questão), que "é da natureza do amor ser regido pelo signo do mistério". O Educa Tube diz que é da natureza da educação ser regida pelo signo das descobertas, para que o abismo do tempo entre professores e alunos seja transposto de forma harmoniosa por ambos, como numa sonata em lá menor.
Teodoro é o professor de piano, que motivado pela aluna e musa torna-se compositor reconhecido e maestro de sucesso, anos depois de sua viagem no tempo. Todo bom professor é um mestre, um maestro que rege com brilhantismo sua orquestra (turma), em que cada aluno tem um talento (seja musical, esportivo, artístico, literário etc). E que se inspira através das trocas de saberes com seus alunos.
Observação: Indico o link abaixo sobre o conto Sonata:
O FANTÁSTICO EM ÉRICO VERÍSSIMO: UMA ANÁLISE DO CONTO “SONATA”, de Daniele Marcon e João Claudio Arendt
Complementando o fantástico, antecipado neste conto de Erico Verissimo, lembro do filme Em algum lugar do passado (1980) de Jeannot Swarcz e do episódio 1, The Cellar (A adega) do seriado Amazing Stories (Histórias Maravilhosas), de 2020, logo a seguir, que relembra Sonata, nesta incrível intertextualidade:
Nossa é tão lindo , é tudo tão bem feito , tão real, tão emcionante que quando assisti na aula de português eu me emocionei e chorei na frente de todos os meus colegas , cendo que eu não gosto de chorar na frente de nimguem . Então na minha opnião, essa obra é capaz de mexer até mesmo com o coração de pedra!
ResponderExcluirOi, Roberta. Só vi tua mensagem hoje. Sou suspeito também, pois adoro tudo que Erico escreveu. E esta adaptação televisiva ficou ótima também. Um abraço, Zé Roig.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirNo texto cita o ano de 2001, mas entendo que seja o ano em que o programa Brava Gente começou.
Por favor, esse episódio - A Sonata - foi ao ar quando?
Obrigado, desde já!
Verifiquei que nos créditos finais do episódio vem a resposta.
ResponderExcluir2001
Oi, Luiz, sim 2001 foi ao ar o episódio da série Brava Gente Brasileira.
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