terça-feira, 10 de setembro de 2013
Conrack: Um educador por excelência (cinema e educação)
O vídeo acima, Conrack: um educador por excelência, descobri por acaso no You Tube (dublado, mas depois saiu do ar e consegui versão original, mas com a possibilidade de ativar legendas) é mais um filme que indico aos educadores, através do marcador CinEducação, por tratar de mais uma história de professor, inspirada na vida de Pat Conroy.
Vide abaixo, resenha feita pelo site Adoro Cinema, sobre o referido filme:
"Ilha de Yamacraw, Carolina do Sul, março de 1969. O branco Pat Conroy (Jon Voight), que no passado fora racista, chega para ser professor numa escola que tem como alunos crianças negras pobres. Na verdade toda a ilha é habitada por negros pobres, com exceção de um comerciante, que tem um pequeno negócio. A sra. Scott (Madge Sinclair), a diretora da "escola" - que é pouco mais de uma cabana - só o chama de Patroy e seus alunos de Conrack não conseguem dizer Conroy, pois no isolamento criaram seu idioma. Eles são analfabetos, não conseguem contar e nem sabem em qual país vivem. Pat tenta trazer uma educação de melhor nível, mas o primeiro obstáculo é a sra. Scott, pois chama os alunos de lentos e preguiçosos, acabando com a autoestima deles. Além disto, ela crê que a única forma de educá-los é no chicote. Pat responde jogando fora o livro de regras e lições pedagógicas. Os estudantes respondem avidamente quando ele toca música clássica, lhes mostra filmes, lhes ensina a nadar e explica a importância de escovar os dentes. Porém o chefe de Pat, o sr. Skeffington (Hume Cronyn), que mora numa cidade próxima, está insatisfeito com os métodos de Pat, que não tem medo de dizer que racismo é em grande parte culpado pela negligência dos estudantes.
Para o Educa Tube, um filme que mostra o eterno dilema e confronto entre o Novato e o Conservador, entre autoestima (e a falta de...) e o desconhecimento de mundo. Assistindo as primeiras cenas, não há como não pensa na metáfora do pescar, que é um exercício de paciência, com o ato de educar, invertendo a posição do anzol por um ponto de interrogação. O verdadeiro pescador, ou melhor, professor, é aquele que mais coloca dúvidas do que certezas em seu aluno, que estimula a pensar e pescar ideias...
A Sra. Scott, diretora disciplinadora exige respeito, por que escola não é parque diversões. Entretanto, o ato de educar pode ser um diálogo divertido, sim, entre professor e aluno, desde que se saiba conduzir brincadeiras que tenham sentido ao fazer pedagógico, como Conrack fazia. Há que sempre se incentivar o debate, dando vez e voz ao aluno, e os resultados serão sempre surpreendentes, se tentados, desde que o professor saiba ter domínio de classe a partir de sólido domínio de conteúdo.
Pat Conroy desarma espíritos gradativamente, ao iniciar sua primeira aula contando um pouco de sua vida, algo essencial para o educador do futuro: justamente fazer seu resgate história, enquanto aluno, cidadão até chegar ao fato de ser professor, mostrar caminhos... E aos poucos sendo criativo, como faz "Conrack", que sobe numa árvore próxima da escola para falar de lei da gravidade, jogando frutas aos alunos. Num jardim, fala de poesia e de botânica, estimulando a interdisciplinaridade de fato, não apenas em teoria, mas na prática...
Os métodos pouco ortodoxos de Conrack desagradam o Sr. Skeffington, seu superior, que não considera aquilo ensino e, sim, fazer palhaçada. Tudo que foge ao senso comum de uma época tem inicialmente uma grande rejeição e os métodos de Conroy são colocados em prática em plena Guerra Fria, mas também num período de efervescência cultural, da chamada contracultura, do idealismo de querer mudar o mundo, lutando contra o sistema. Este tempos românticos passaram, o mundo mudou muito, caíram muros, regimes, mas a educação ainda continua se repetindo em grande parte em seu conservadorismo, refratário a mudanças... A própria tecnologia na educação tem sido mais uma forma de substituir peças por outras (retroprojetor por datashow, máquina datilográfica por computador), sem mudar a práxis.
Conroy leva o cinema para a escola, ao descobrir num armário poeirento, um projetor e filme. Mas a Sra. Scott diz que não acredita na educação com máquinas (é conteudista). Eu também não acredito em máquinas na educação, se tais equipamentos forem tratados apenas como máquinas e não como possibilidades de interação entre pessoas, seja na sala de aula, após o horário escolar, entre outras pessoas mundo afora (professores e alunos numa rede social educacional).
Na cena, quando filme conta com 1 hora e 01 minuto, um bom diálogo entre Conroy e Sra. Scott para tratar sobre racismo, preconceito e discriminação. O professor usa arte, cultural, música para passar seu conteúdo. Utiliza um toca-discos para sensibilizar os alunos para a beleza da música e da história que esta sendo contada, abusa do carinho e da afetividade, pois são alunos carentes em todos os sentidos... Quando 01 h. 08 min. de filme, traz questões de gênero, fazendo tricô, coisa de homens e de mulheres, segundo alunos. E conversa sobre a descoberta da sexualidade. Quando 1h e 10 min., intervém em cena de bullying no banheiro dos meninos. Faz um questionário vivo de perguntas e respostas numa corrida com seus alunos pela beira da praia. E. por fim, diante do desconhecimento dos alunos sobre o Hallowen, resolve ir a Beaufort (cidade mais próxima) para mostrar o Dia das Bruxas. Pede autorização à Sra. Graves, a matriarca, considerada a abelha-rainha da comunidade,afinal, as pessoas nunca saem da ilha, vivem confinadas num gueto. Impossível não pensar noutra metáfora da educação ao assistir este filme, quando as crianças no barco usam coletes salva-vidas, e que os bons professores salvam vidas em sua profissão, apontando caminhos, quando conseguem fazer seus alunos acreditarem em seus sonhos...
Na parte final do filme (1 h. e 30 min.), uma cena emblemática da educação ontem e hoje: Um dos motivos da demissão de Conrack - que recorre a instância superior, que chega a ser cômico, se não fosse trágico -, é de que o professor mostrou "uma vagina de uma mulher nua na sala de aula", quando na verdade se tratava de uma obra clássica de pintura do artista plástico Pablo Picasso. Pior que o desconhecimento do aluno e de toda uma comunidade é o preconceito, a discriminação, o conservadorismo e o desconhecimento de outros educadores, que pelos mais variados motivos, impedem que educadores libertários exerçam a sua profissão.
Conrack, um filme antigo, estrelado por Jon Voigt - pai da estrela Angelina Jolie -, com uma narrativa lenta, bem diferente dos filmes atuais, que usam e abusam dos efeitos especiais, ainda que muitas vezes nem tenham nenhuma história a contar, seja mais um imenso videoclipe e nada mais... Mas Conrack conta uma história de educador para educador, e o Educa Tube sugere sua utilização, não com alunos, mas mais com cursos de formação de professores ou de alunos (do magistério e curso normal) que pretendam ser professores, pois poderá ser uma grande lição de vida, inspirado em fatos reais. Um verdadeiro reality show da educação...
Esse filme mostra a perseverança de um homem que acredita que está fazendo a coisa certa, mesmo tendo um começo difícil e desanimador, mas ele insiste, pois acredita que a semente que ele está perseverando em plantar irá trazer bons frutos, e não bons frutos para si, mas sim para o próximo. Se tivermos um pouco do amor ao próximo como esse professor teve com certeza temos algo de muito bom dentro de nós...
ResponderExcluirSim, Nasleon. Desculpe-me a demora em responder. Não tinha recebido essa notificação. Grato pela visita e comentário. Abrs
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