sábado, 22 de março de 2014
Melhores planos... de aula, de trabalho e de vida: música, educação e sociedade
O vídeo acima Best Laid Plans (Melhores planos) é uma bela canção e incrível videoclipe do cantor James Blunt e que ao assistir já na primeira de muitas vezes no You Tube, passei a vê-la como um curta-metragem musical.
Por sinal, já utilizei diversos videoclipes de Blunt, seja em postagens do blog, como em projeto literário chamado Clipes que parecem Curtas, mostrando as diversas forma de linguagem e comunicação audiovisual a alunos do ensino fundamental e médio das redes públicas aqui da cidade do Rio Grande, RS, Brasil.
O clipe inicia com alguns versos emblemáticos, um deles, justamente o refrão: "Diga-me por que todos os melhores planos desmoronam em suas mãos/ E minhas boas intenções nunca terminam do jeito que eu queria".
Curioso que associei automaticamente os "Melhores Planos" de vida aos de trabalho, justamente do planejamento de aula do professor que precisa ter a exata dimensão do período de tempo e da amplitude de espaço para atuação com um grupo diversificado de alunos de uma comunidade. Hoje, até o termo comunidade, ser comum a um lugar, encontra-se relativizado, pois nem sempre os alunos são daquele local, daquela região, nem sempre os pais estão presentes, quando chamados à escola, nem sempre a escola possui as condições ideais de infraestrutura...
Antes de retomar esta questão educacional, gostaria de analisar primeiro a linguagem visual do clipe, que inicia com um misterioso jovem de capuz no alto de um prédio de muitos andares, com uma pedra (tijolo) atada a uma extensa corda, esta amarrada ao seu pé esquerdo. Em seguida, o clipe mostra pessoas num parque girando em círculos sobre si mesmas, sem sair do lugar. O jovem de capuz, querendo talvez se desfazer de um peso morto - sua vida, quem sabe, fruto d'alguma profunda desilusão - arremessa a pedra lá do alto, enquanto a corda vai se desenrolando lentamente, num efeito visual que provoca no espectador uma tensão. Quem é esse ilustre desconhecido? Alguém que desiste dos sonhos e consequentemente da vida? Alguém com problemas emocionais? Alguém que poderia ser qualquer um, inclusive eu, tu, ele, nós , vós, eles... Todas as pessoas do singular e do plural. Hoje somos singulares quando aprendemos a conviver no plural, numa verdadeira rede social, além da digital... Mas enquanto faço essa digressão, o clipe continua tocando e tudo continua girando sem sair do lugar, sejam pessoas, moedas, máquinas de lavar, relógios, o mundo ao redor... Quando uma moça que passa na rua se aproxima de um jovem que rodopia e coloca a mão em seu rosto, parece que ele para de girar (o carinho, atenção promovem essas mudanças de curso). Enquanto isso, a pedra e o peso dos dias continuam a cair do alto do prédio. A corda que nos faz acordar... Do prédio em frente uma moça vê a suposta tentativa de suicídio e tenta ligar para alguém. No final, a surpresa: A corda era maior do que a altura do prédio, e a pedra cai antes sobre a cabeça de um sorveteiro que ali se instalara comodamente, ao lado do prédio, apenas para vender seus sorvetes...
Diante do inexorável, algo que é inerente ao ser humano: fazer planos, sonhar, se desiludir, se decepcionar... Mas o que nos faz singulares ou plurais é a forma como diante das dificuldades e desafios da vida, sabemos calcular as decisões, promover a resolução de problemas, obtendo melhores planos para cada situação...
Não atingimos muitas vezes nosso objetivo inicial - e às vezes atingimos que nem era o nosso alvo - por um erro de cálculo, como o jovem e sua corda maior que o seu desenlace...
O bom educador, seja pai ou professor, é aquele que sabe planejar tanto uma aula como seu trabalho como extensão de sua vida, esta sempre o objetivo principal. Nem tudo é do jeito que imaginamos, planejamos. Porém, quando não se tem a dimensão exata de nosso projetos, da amplitude que queremos a eles dar, a corda sempre sobra ou arrebenta do lado mais fraco, como diz a sabedoria popular.
O Educa Tube Brasil (e seu editor) sempre tem dito o quanto sua metodologia foi com o tempo se aprimorando ao observar o método de trabalho de diversos prestadores de serviços, como mecânicos de automóveis, operários da construção civil, eletricistas, encanadores etc.
Comparo sempre a construção do conhecimento à metodologia da construção civil, em que a fundação e os alicerces, logicamente, iniciam de baixo para cima (como o ensino fundamental e o médio) e que seu acabamento vem de cima para baixo (feito a graduação e pós-graduação). Que muito aprendi com eletricistas a testar uma ligação com a caixa e fiação abertas, para ver se funciona, para que não seja preciso abrir tudo de novo, caso algo não esteja corretamente conectado, o que impedirá a passagem da corrente elétrica por aquela fiação. Pensar um melhor plano de aula e de vida, requer deixarmos o projeto em aberto, vendo como ele funciona e fazendo os ajustes necessários até que ele possa ser devida e satisfatoriamente concluído. Que a escola é de certa forma uma autoescola em que o professor ensina ao aluno a conduzir seu próprio caminho, numa coordenação além do volante e pedais. Que as tecnologias são apenas um dos veículos neste processo de ensino-aprendizagem. Muitos destes profissionais autônomos - e alguns até autodidatas - me ensinaram sem querer nem saber que estavam sendo observados, me proporcionando a possibilidade de pensar "Melhores Planos" com meus alunos e cursistas.
Assim é a vida: Repleta de desafios e de aprendizagens. Se desejamos melhores planos, devemos sempre observar o nosso entorno, nosso filho e aluno, e estabelecermos a partir disto uma adequada estratégia de interação, medindo, calculando as possibilidades para que se atinja o êxito e a corda não seja nem muito longa nem muito curta, evitando assim que nossas ações causem danos e transtornos a terceiros (como o coitado do sorveteiro, no clipe), que fazem parte de nossa comunidade.
Ouso dizer - pensando a teoria e a prática - que o aluno nunca foi e jamais será o adversário do bom professor, da boa escola e da boa educação. Pelo contrário, passa ser o seu apoiador, o colaborador, se visto (por gestores público e escolares, por professores e pais) como alguém que é o objetivo principal de uma instituição escolar... Arrisco dizer que a má educação, a má escola e o mau educador sim, foram e continuam sendo adversários de todo e qualquer aluno - usando ou não a tecnologia -, quando proíbem por proibir algo (seja boné, cabelo longo, piercing etc que fazem parte da identidade quase tribal do jovem) querendo mostrar autoridade, mas mais parecendo autoritários; quando se preocupam mais com aspectos pontuais do que estruturais, mais estéticos do que pedagógicos... Ninguém e adversário de ninguém, mas é na adversidade que os bons se destacam e os maus estacam... Na diversidade, os bons inovam e os maus se repetem, mais do mesmo, girando em círculos sem sair do lugar.
Abaixo, link para a letra original da canção e a sua tradução:
BEST LAID PLANS - JAMES BLUNT - TRADUÇÃO
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