sexta-feira, 17 de junho de 2016
Por uma Filosofia Poética: Professora surpreende alunos em exercício de alteridade e experimento social
A imagem acima, descobri na rede social e trata-se de experimento social realizado por Edenise Guedes, professora de Filosofia do IF-Sertão PE, Brasil, que surpreendeu seus alunos na aula inicial de Filosofia para sua turma de Agronomia do campus Petrolina, Zona Rural de Pernambuco.
Conforme notícia do portal Preto no Branco, da jornalista Sibelle Fonseca:
"Os estudantes esperavam pela professora substituta que ministraria sua primeira aula para turma. Na sala, uma pessoa limpava mesas e cadeiras atenta aos burburinhos dos alunos que comentavam sobre a demora da professora.
Edenise Guedes resolveu provocar. A docente vestiu-se de servidora da limpeza e se colocou por tempos diante dos estudantes, limpando e organizando o ambiente. Até que parou diante deles e questionou: o que é filosofia? A turma se surpreendeu. Então aquela mulher que limpava seria a professora?
Para espanto deles sim. Edenise estava ali o tempo todo, mas se sentiu invisível. 'Andei pelos corredores e as pessoas não olhavam para mim. E quem olhava e me reconhecia, olhava espantado. Você vê como a gente precisa olhar o mundo. Tem uma parte da filosofia que eu sempre digo: leiam o mundo em sua volta', afirmou a professora.
Para ela, ir para a aula caracterizada de outro profissional teve como objetivo chamar atenção e mostrar que o conhecimento está em qualquer lugar. 'A ideia é pensar como seria ter um professor invisível por alguns momentos na sala. Será que eles olhariam o outro? Essas pessoas colaboram para o ensino, são fundamentais para o funcionamento da instituição e muitas vezes nós não percebemos isso', explicou. Além disso, Edenise quis incomodar. 'Fazer eles sentirem esse incômodo é o que faz as perguntas surgirem. E questionar as coisas é muito importante', disse.
As estudantes Micaele Bagagi e Letícia Souza estavam na aula e confessam: não prestaram atenção na pessoa que estava ali até se apresentar como professora. 'Ela só estava limpando a sala. Se ela tivesse entrado como professora nós teríamos tido outro comportamento, outra atitude', disse Micaele. 'Foi uma experiência diferente, que fez a gente refletir. Pensar em notar mais as pessoas, olhar mais para os lados', considerou Letícia.
Segundo a percepção de Edenise, o objetivo foi alcançado. 'Eles pararam para ver que estavam meio cegos na instituição. A minha função como professora de filosofia é fazer como que vocês saiam daqui melhores', concluiu".
Fonte: Inês Guimarães / Ascom IF-Sertão
Um interessante experimento social, que considero uma filosofia poética, que promoveu no aluno um exercício de alteridade, do olhar para o outro, do perceber o outro. Algo essencial do educador provocar no aluno. Algo que faz-se necessário numa "engenharia reversa" do professor também colocar-se no lugar do aluno, de se autoavaliar, de se sentir um eterno aprendiz para justamente poder estabelecer estratégias eficientes de interação como o outro, com o mais jovem, a partir de múltiplas perspectivas de diálogo, de comunicação.
Algo que me lembrou cena emblemática do filme Sociedade dos Poetas Mortos, em que o professor convida os alunos a arrancarem página de um manual de análise poética e sentir a poesia em sua essência e nem tanto em sua métrica, levando-os para o hall da escola (a famosa cena do carpe diem) e depois para o pátio da instituição (vide abaixo), promovendo uma aula que une de fato teoria e prática em uma verdadeira Filosofia Poética, além de uma belíssima aula de Literatura e de filosofia de vida, como todo o filme (nas cenas escolhidas que se seguem mais abaixo):
Aproveitem o dia, tornem suas vidas extraordinárias, um lema que deveria ser levado a pé da letra por todos, sejam professores ou alunos, pais ou filhos. Carpe diem colham as rosas enquanto é tempo (renda-te a extraordinária vida! A primeira aula, o momento do professor cativar seu alunado).
Acima, vídeo editado de cenas do mesmo filme nos pergunta Porque lemos e escrevemos poesia? E bem que poderia ser feita a mesma pergunta: Porque estudamos filosofia? Pois, "Que a poderosa peça [a vida?] continua e você pode escrever um verso! Qual seria o seu verso?
E mais: A linguagem serve para associar, não apenas literatura ao imaginário do cinema, da música, do humor, um olhar diferente sobre as coisas e pessoas, ao subir sobre a mesa e convida alunos a fazerem o mesmo subindo sobre as classes. "Quando lerem, não tenham apenas em mente o que o autor pensa. Pensem no que vocês pensam. Esforcem-se por achar sua voz própria". Descobrir a própria voz, seja na escrita, como no cotidiano, através do senso crítico, da análise dos discursos (políticos) etc.
Na primeira aula, nada de ficar preso a manuais rigorosos ou receitas de bolo rígidas, cadernos mofados, livros repetitivos, analisar poesia não requer uma fórmula matemática (que alunos mais limitados copiam à exaustão, mas incentivar a fórmula mágica da observação, sensibilidade e criticidade, sem tantas regras rígidas, estejamos resolvendo um exercício matemático ou uma análise sintática. Na primeira aula devemos estabelecer um receituário de convivência entre professor e aluno, estabelecendo as regras básicas de convívio social e educacional, qual a proposta pedagógica e filosófica que será levada em curso, durante aquele período.
Afinal, "parole e idee possono cambiare il mondo" (Palavras e ideias podem mudar o mundo) e todo professor vive e sobrevive das palavras, independente da disciplina que ministre, sejam humanas ou exatas:
O educador deve promover primeiro seu próprio Autoconhecimento, para depois levar essa proposta e prática à sua turma, estabelecendo como na Poesia dos Dias e na Filosofia de Vida, passo e ritmo, ora marcial, ora mais ameno, como o exemplo de aula de poesia no pátio da escola, em que o professor, primeiro que conhece o ritmo de sua turma... Para depois estabelecer as estratégias de interação.
Todos somos educadores, sejamos pais ou professores, e nesta grande poesia dos dias, não custa repetir: Qual será seu verso? Qual seu objetivo de vida?
Enfim, todo educador deve, não querer ser o melhor no que faz, mas justamente fazer o seu melhor onde passe. Ser relevante na vida dos outros e por conta disso ter um papel relevante para si mesmo. Eis a grande Filosofia Poética que se pode legar a filhos e alunos, e também a colegas de profissão (independente de qual seja), de darmos sentido ao que fazemos a partir de nossa filosofia de vida, surpreendendo primeiramente a nós mesmo, depois aos outros, seja com experimentos sociais, como a professora real Edenise, seja como o uso de cenas de filmes de professores fictícios, mas tão necessários como o professor Keating de Sociedade dos Poetas Mortos (1989), de Peter Weir, que retrata uma escola tradicional dos EUA, nos anos 1950, e a cena final, a seguir, que é comovedora, pois demonstra que todos temos um papel social nesse grande Teatro da existência humana, influenciando e sendo influenciados (por filmes, livros, músicas, etc) ainda que sejamos passageiros na vida uns dos outros. Professores passam por nós, e nós passamos pela vida de professores, e dessas trocas, ambos podem sair lucrando e aprendendo mutuamente. Muitas vezes com pequenos gestos de sensibilidade, de provocação, de desafio, de autoconhecimento e autoavaliação, como o promovido pela professora Edenise e outros mais, mundo afora. Carpe diem!
Todos os dias assistimos cenas, sejam em telejornais, como nas ruas e em toda parte, de pessoas inovadoras digladiando-se com outras conservadoras. Nãos e trata de disputa entre o novo e o tradicional. Há muita coisa boa em cada um desses polos que devem ser valorizadas sempre. O próprio conhecimento atual deve muito aos clássicos da antiguidade, a poesia e a filosofia, a matemática e o direito, etc. Não se trata disso. Nem toda a novidade é de fato inovação. Inovar é acima de tudo, promover a transformação das coisas e das pessoas, E neste caso, o que importa não é a tecnologia mas a metodologia dessas inovações, para que de fato promovam transformações...
Para complementar essa postagem, recomendo o texto (link abaixo) de Eduardo Beltrão de Lucena Córdula, Mestrando (UFPB), especialista em Supervisão Escolar (IESP) e pesquisador do Gepea (UFPB), que vem em parte ao encontro dessa publicação e da promoção de práticas inovadoras:
O rigor da educação tradicional: a Sociedade dos Poetas Mortos
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