terça-feira, 28 de fevereiro de 2017
"Uma canção para vovó": o singular-plural de três relatos interligados em três extremidades do Brasil
Vídeo acima Canção para vovó, descobri no Facebook do autor, o jovem Daniel Santos, de Currais Novos, Rio Grande do Norte, Brasil, que além de comovente letra e contundente declaração e amor, lembra-me uma pequena crônica, intitulada "Minha avó não sabia ler e nem escrever. Mas sabia eternizar", do amigo Douglas Felliphe, poeta de Presidente Prudente (SP), Brasil, texto publicado em 03/12/2012, em seu blog chamado Você em pauta, e que reproduzo abaixo:
"Minha avó não sabia ler e nem escrever. Mas sabia eternizar.
E assim ela foi eternizando em mim, os verbos que não leu e nem escreveu, apenas escutou...
Eu na minha infância, apenas enxergava seus movimentos. Ela pegava um livro, olhava para ele e começa a contar historias. Não lia, apenas contava. Oras, ela não sabia ler, mas eu, eu sabia escutar..."
O bom educador, seja ele professor, pai ou avô, é aquele que sabe eternizar, mesmo. Eternizar verbos, e orações subordinadas ou equações matemáticas, que sabe incentivar a leitura de imagens, de coisas e gentes, além das letras e números.
E o mais interessante é que pouco mais de quatro anos após conhecer este texto, mais precisamente em janeiro 2017, quando a convite da professora Nelsa Santos, visitei a E>M.E.F. Padre Eugênio Tyck, na comunidade do Estreito, na zona rural do município de São José do Norte, extremo sul do Rio Grande do Sul (o extremo oposto ao Rio Grande do Norte, onde mora Daniel Santos), o ciclo se fechou, quando a professora me contou um pouco de sua história de vida, durante o caminho de carro da cidade à escola. Logo minha memória se lembrou da história de vida do amigo Douglas Felliphe, que me remeteu ao vídeo de Daniel Santos. Círculos concêntricos da memória como uma pequena pedra que é jogada ao rio e que abre círculos e mais círculos um dentro do outro.
Nelsa me contou que sua mãe era agricultora, morando no interior, sem acesso à educação, mas que mesmo analfabeta a incentivou a estudar até a 4ª série, na escola rural ali próximo. Sua mãe mesmo sem saber ler, contava histórias para ela, lendo imagens e dizendo que o dia que a filha aprendesse a ler lhe contasse o que estava escrito naqueles livros. Nelsa não apenas concluiu a 4ª série, mas depois, devido problemas de saúde, não pode mais ajudar os pais no campo e veio para cidade, onde concluiu ensino fundamental, depois o médio, se formou no magistério e depois concluiu a faculdade, vindo depois a ser diretora na escola da comunidade do Estreito. Uma bela história de vida dela com a mãe, que se conecta ás histórias de vida de Douglas e Daniel com suas avós. Do incentivo que os mais velhos dão aos mais novos, da importância da família na educação como primeiros educadores e incentivadores da leitura de livros e mundo. Da bagagem sentimental que trazemos junto e incorporamos aos projetos de trabalho que são (ou deveriam ser) extensões do projeto maior de vida.
Três relatos de vida, em três formas distintas (vídeo, texto e conversa informal), em três regiões extremas no país (RN, SP e RS), relatos singulares e ao mesmo tempo plurais, únicos e particulares, e ao mesmo tempo universais, unidos pelo amor à arte, à cultura, à família e à sociedade. O singular-plural.
Abaixo, vídeo com a resposta da vó de Daniel Santos ao vídeo com a canção em sua homenagem:
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