domingo, 14 de junho de 2020
Uma crítica lúdica à sociedade contemporânea: conheçam o cartunista que desafia a ditadura do automóvel
O vídeo acima, O cartunista que desafia a estupidez do automóvel, [que resolvi rebatizar de "ditadura" ou invés de estupidez, pois parece-me mais algo imposto como modelo do que como ato instintivo apenas e explicarei melhor adiante], mostra a visita do cartunista Andy Singer ao Brasil, quando veio para lançar seu livro "CARtoons – Atropelando a ditadura do automóvel" [aí com o termo "ditadura", como concordo] a convite da Fundação Rosa Luxemburgo, uma entidade que descobri recentemente e que recomendo visita em seu site, link AQUI. A referida Fundação disponibiliza o livro “CARtoons – Atropelando a ditadura do automóvel” para download gratuito em seu site e segundo matéria, que li por lá, Andy Singer, através de sua obra, é considerado o cartunista inimigo número 1 dos carros, justamente por sua crítica, através de sua arte, ainda que de forma lúdica, sobre esse aspecto peculiar da sociedade contemporânea, do apego ao automóvel, de forma visceral, como a atual geração tem com os meios eletrônicos: videogames, smartphones, internet... Apesar de o carro só ter pouco mais de 100 anos de invenção, como Andy destaca, diante de mais de 2 mil anos de processo civilizatório, sua presença no cotidiano, principalmente das grandes cidades é quase assustador, pois as vias expressas e ruas ficam tomadas por esse tipo de veículo e suas desdobramentos, como engarrafamentos monumentais, poluição etc. Uma sociedade “viciada em carro”, como diz o autor do "livro [que] foi editado em uma parceria entre a FRL e a editora Autonomia Literária".
Se pararmos pra pensar, de fato, há um vício, presente na sociedade, e vemos isso em amigos, parentes, colegas e vizinhos que não vivem sem o carro, mesmo que seja só pra ir na padaria comprar pão há poucas quadras de casa ou até quase ao lado, e isso não é mera força de expressão. E pasmem! Há um paradoxo nisso, pois uma sociedade automobilizada é extremamente sedentária, pois mesmo se deslocando com carro, vive sem praticar esportes, caminhar, se locomove de forma sentada e só... Mais que isso é o atropelo quanto ao tempo, mais que o espaço, mas que incide no espaço por conta da pressa de fazer tudo correndo, acelerando o dia, a vida, o mundo... Pessoas estressadas no trânsito são estressadas em toda parte. Buzinam, são impacientes, mal o sinal ficou verde e parece que estão disputando o GRID de uma corrida de corrida de Fórmula 1. Muitas vezes parece ter mais carros do que ruas para se locomoverem. É um modelo insustentável. Há que se buscar meios alternativos, de transportes coletivos e nem tanto esse vício, digamos, pequeno burguês de ter um carro pra fazer tudo, sem buscar outras formas menos estressantes. Sem falar daqueles que atravessam sinais vermelhos, não respeitam faixas de pedestre, que usam o carro como uma arma letal...
O vídeo acima é interessante pelas imagens e falas de Andy e sua reflexão sobre esse momento da humanidade e serve para discussão em sala de aula sobre temas como acessibilidade, sustentabilidade, mobilidade urbana, nos componentes curriculares de geografia, história, sociologia , filosofia, produção textual, artes, educação física e outros mais.
Interessante também por trazer esse olhar externo, estrangeiro sobre o brasileiro, mostrando pontos negativos, mas também positivos de nossa cultura, além do carro, como o que ele denomina de "cicloativismo", dos ciclistas e suas campanhas de valorização do pedal, dos passeios e da importância das ciclovias como forma, não apenas de lazer mas de locomoção para o trabalho, estudo etc. Um olhar que compara o aqui com o lá e acolá, principalmente quando percebe que nossa cultura preserva as árvores no meio do caminho, em que ciclovias contornam árvores e arbustos, preservando-os do "abate". Pode parecer algo simples e corriqueiro pra nós, mas é grandioso pra um estrangeiro e isso demonstra que nem tudo está perdido em nossa sociedade, que existe muita coisa a ser valorizada, e é fruto de uma conscientização ainda lenta mas necessária...
Outra coisa sensacional na fala de Andy é, quando ao final, ele diz que "o bom de ser velho é poder ver as coisas mudando". Realmente essa perspectiva de tempo e espaço só é possível com o transcorrer da idade, da vivencia, da maturidade e por isso mesmo o papel fundamental do educador, seja ele pai ou professor, diante da atual geração, mostrando-lhes esse percurso, essa caminhada da humanidade... De que as coisas precisam de tempo pra se transformarem e que são com ações pequenas e graduais, que o mundo vai se transformando aos poucos...
Pra ilustrar um pouco dessa ditadura do automóvel, indico um filme espetacular de Francis Ford Coppola, TUCKER: UM HOMEM E SEU SONHO (1988), justamente sobre um idealista no meio das gigantes montadoras de carros norte-americanas e mais dois documentários QUEM MATOU O CARRO ELÉTRICO, de Chris Paine, sobre o surgimento de carros ecológicos, elétricos e GURGEL: OS SONHOS ENFERRUJAM, sobre carros de fibra e o movimento das grandes empresas de petróleo contra essas transformações, o que dá pra entender a tal DITADURA DO AUTOMÓVEL E DOS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS no mundo contemporâneo.
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