quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021
"Reiniciado": sensacional metalinguagem cinematográfica em curta de animação para refletir sobre o avanço tecnológico na perspectiva da Sétima Arte e da Educação
O vídeo acima, Rebooted (Reiniciado, tradução livre), é um curta-metragem de animação genial, pois mostra toda a mecânica da Sétima Arte, de uma tela dentro de outra, como espelho da realidade, do micro ao macrocosmo, da fantasia ao outro lado da tela, em planos-sequência incríveis, mesclando diversas técnicas, de animação em stop-motion, time-lapse, animatronic etc; com personagens de carne e osso contracenando com personagens artesanais e virtuais, num diálogo intertextrual de técnicas artesanais com digitais.
O curta que tem roteiro e direção de Michael Shanks e produção de Chris Hocking, Nicholas Colla, LateNite Films, mostra o cotidiano de uma antiga estrela do cinema que envelhece e tenta conseguir novos papéis. Phil, o esqueleto que já foi vilão, busca emprego na Hollywood moderna, tendo a consciência que ele é fruto de truncagens e efeitos especiais desatualizados.
Considero também um curta que se presta a uma metáfora sobre a vida de um professor que mantém sua metodologia e didática como no passado, sem atualizar nem se integrar ao mundo digitalizado das TIC, Mídias e redes sociais, que são utilizadas pelo jovem alunado.
O professor que não se atualiza em sua didática e metodologia, em tempos de tecnologia da informação e da comunicação, de mídias e redes sociais, será uma peça de museu e é questão de tempo. O ensino mecânico e robotizado, será facilmente substituído por qualquer algoritmo e Inteligência Artificial. Todavia, o bom ator social, que é o professor criativo e interativo, conectado com seu aluno, este, é possível afirmar de antemão que nenhuma máquina poderá fazer alguma simulação ou substituição.
Como numa escola, o curta mostra, de forma contextualizada, como as técnicas de filmagem foram evoluindo e sendo substituídas, demostrando a evolução do artesanal para o analógico e depois para o digital. Porém, devemos ter o cuidado com esse discurso do moderno pelo moderno, o novo pelo novo, pois nem toda novidade é de fato inovação. Sempre repito aos colegas, alunos e amigos que inovar é transformar algo já existente num outro conceito, ideia ou uso diferenciado do original. Não podemos achar que a Inteligência Artificial, por exemplo, superará mais de 2.500 anos de Filosofia, pois tudo é percurso e acumulo de informações que geram conhecimento. O bom professor se adapta às mudanças, preservando o que é atemporal e universal.
Como no cinema, a escola teve abvanços tecnológicos com o passar do tempo, desde a aula expositiva ao material manuscrito, depois mimeografado, o projetor de slides, as lâminas ou transparências do retroprojetor, até ao projetor multimídia (datashow), a internet, o computador, videoaulas, a nuvem digital e tudo mais.
Todo novo ano leitov é um processo de reiniciar a vida e reinicializar o computador pessoal de professores, pais e alunos.
A própria IA, por exemplo, está abrindo novos campos de atuação, na própria filosofia, no direito, no cinema, no cotidiano.
O curta é sensacional, pois traz dois planos de leitura, entre o estúdio de cinema e a escola, que é o espelho/tela da sociedade. E há um diálogo constante entre a sétima arte e a arte do ensinar e do aprender em comunidade.
A cena num bar, em que Phil, o esqueleto de stop-motion divide mesa com o dinossauto, tipo animatronics, é emblemática, principalmente quando estes dois encontram outras personagens, cada qual com sua técnica de animação, já ultrapassada. Uma ode ao cinema e aos animadores, além de um resgate histórico e da memória do cinema.
Eu sou, de certa forma, um dinossauro da educação, pela questão temporal... Estou há mais de 30 anos na educação, e retornei a ela quando muitos de meus colegas já se aposentaram, sendo colega de jovens que poderiam ser meus filhos. Mas estou sempre rejuvenescendo nas trocas que faço com meus alunos adolescentes, usando clipes, curtas, cenas de filme etc, do meu imaginário em trânsito e diálogo com o deles. O seriado Cobra Kai é um exemplo disso, de como o choque de gerações pode se tornar também um bom espaço para trocas e interações, ao mesmo tempo que aprendemos e ensinamentos uns com os outros, em comunhão, como dizia Paulo Freire.
Para finalizar essa postagem um tanto quanto nostálgica, considero a cena da revolta das personagens contra o estúdio que não os quer mais algo hilário demais, pois eles literalmente se moldam aos humanos em seus ataques.
Contudo, há que se ver nas entrelinhas que destruir essa história é destruir a própria memória do cinema e boa parte do imaginário da população do século XX para cá, com todos seus arquétipos e estereótipos construídos diantes das telas dos mais variados tamanhos.
Assim ocorre igualmente com a educação e outras áreas do conhecimento, se renegarmos o passado a mera peça de museu, e não um processo cíclico, continuado e de reinvenção. O termo Rebooted (Reiniciado) neste caso, tem tudo a ver com essa reflexão pedagógica e tecnológica. Por isso, considero a cena final um primor de lirismo, redenção e esperança, e bom humor, quando o esqueleto do cinema se vê relfetido num brinquedo igual a si, nas mãos de uma menina num trem. O eterno recomeço... Ou não, através do imaginário da snovas gerações de diretores de cinema e professores que fazem de seu ofício uma arte em toda parte. ;-)
Indico logo a seguir, link para o famoso vídeo "Atrás das cenas", em que mostra como o curta-metragem foi feito:
Observação: Ativem as legendas e a tradução, clicando nos ícones da folha com 3 linhas e da engrenagem, respectivamente, no canto inferior direito da tela de exibição do vídeo no YouTube.
Esta postagem é de autoria de José Antonio Klaes Roig, professor, escritor e poeta, além de editor do blog Educa Tube Brasil.
http://educa-tube.blogspot.com
José Antonio Klaes Roig ou Zé Roig, como gosta de ser chamado, possui o Prêmio de Professor Transformador [2020] e seu blog Educa Tube Brasil, o Prêmio de um dos melhores blogues educacionais do Brasil [2020], conforme selos estampados na coljuna à direta desta postagem.
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