quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
O Mundo de Sofia e o ensino da filosofia (CinEducação)
"O que pensarão os pássaros de nós?", esta frase introduz o belíssimo filme O Mundo de Sofia (acima, cena no You Tube), inspirado em romance de mesmo nome, de autoria do norueguês Jostein Gaarder.
Mas o diálogo entre duas jovens amigas (Jorunn e Sofia), deitadas em um campo, observando o voo dos pássaros, vai além:
- Os pássaros não pensam. Migram para o sul no inverno, diz Sofia.
- São muito inteligentes.
- É instinto, Jorunn. Só as pessoas pensam.
- Adoraria viver como um pássaro e nos ver lá de cima.
- Já imaginou o tamanho que é o espaço? Infinito. É infinito, Jorunn. Ninguém sabe o quanto é grande. Há muitas coisas que nunca saberemos, completa Sofia.
- Logo se poderão comprar discos e conectá-los ao cérebro e duplicar o nosso conhecimento. O cérebro é como um computador.
- Pássaros e computadores não pensam. Só as pessoas são conscientes.
- Imagine, um circuito implantado na cabeça.
Assim começa esse filme encantador e instigante que descobri completo (em 2 partes) e legendado em português, no You Tube, e socializo, via Educa Tube (através do marcador CinEducação, que é uma palavra-chave para destacar filmes que servem à educação), sugerindo seu uso, não apenas aos professores de filosofia, mas para todos os educadores trabalharem algumas cenas ou todo o vídeo com seus alunos, pois a filosofia do cotidiano nos diz que educação e tecnologia requerem o desenvolvimento do raciocínio lógico, de um outro sentido lógico para a própria rede lógica de computadores. E o diálogo inicial do filme, por si só, somente esta cena de 3 minutos, já serve para abrir um grande debate entre filosofia e tecnologia na educação.
Sugiro também que os educadores usem fragmentos do livro ou todo ele, trabalhando questão da educação, através do cinema e da literatura. (observação: o filme pode ser baixado direto do You Tube, se tiver o programa Real Player instalado no computador.)
O filme, como o livro, inicia da troca de cartas entre uma menina e um misterioso professor que introduz Sofia no mundo da filosofia. A primeira carta traz uma indagação: "Quem é você?" Desde que o mundo é mundo, vivemos de indagações e superamos desafios a partir de novas indagações... Quem somos, para onde vamos, de onde viemos... Perguntas eternas...
Na primeira parte, uma cena que lembra-me a troca de correspondência além do tempo e do espaço, como no filme A Casa do Lago.
Duas indagações iniciais, nos envelopes sem cartas propriamente ditas, instigam a curiosidade da menina Sofia: Quem é você? De onde vem o mundo?
Pois então, saber instigar o pensamento investigativo, analítico, crítico é papel social do professor, e não apenas o de exigir exercicios de memorização de conteúdo fechado, já pré-moldado, que não permite a sua manipulação nem sua construção E isso ficará melhor evidenciado em cena da parte 2, que comento mais adiante...
o Mundo de Sofia, disponível na íntegra na web, é um grande achado, uma grande mensagem, uma ótima atividade no ambiente escolar: dar asas a imaginação, unindo o útil ao agradável. Um pequeno dicionário poético do cotidiano, diria...
Sugiro que os visitantes e seguidores do Educa Tube se detenham na cena que inicia aos 18 e se encerra aso 19 minutos da 1ª parte desse filme, quando Sofia Amundsen lê uma redação, supostamente de sua autoria, aos seus colegas de turma, a pedido do professor sisudo; texto este intitulado de "A Idealização Mítica do Mundo", em que há uma alegoria de imersão do leitor/ouvinte no mundo das palavras, feito pelo autor. Uma cena antológica, que remete a filmes como Um Faz de Conta que Acontece e Coração de Tinta, que tratam justamente do poder da leitura.
Como um guia prático sobre filosofia, o filme faz uma pequena viagem no tempo...
Ao tratar de O Mito da Caverna, de Platão, de pessoas aprisionadas em uma caverna, que só veem sombras e não tem coragem de sair de seu reduto, se presta a diversas interpretações, como a do mito da tecnologia na educação. Alguns temem o desconhecido, mas não ousam enfrentar à luz da tela tremeluzente de um computador. No filme, fala mais da televisão, mas a informática e a internet também possuem suas sombras, seu lado escuro da Lua, tanto para educadores como para alunos.
A seguir, destaco algumas cenas para reflexão:
Aos 48 min., da 1ª parte do filme, Sofia quase atravessa o espelho, que nem Alice de Lewis Carrol.
Na segunda parte, Sofia, que nem Buzz LightYear, em Toy Story 2, tem a consciência de que é uma personagem de uma história. No caso, Sofia descobre que é a representação de Hilde, a filha do major Knag, autor daquela história. Um livro escrito de pai para filha, enquanto aquele serve nas Forças de Paz da ONU.
Aos 31 min. uma definição inusitada sobre corpo e alma, comparando-os, respectivamente, ao computador e ao sistema operacional, que merece ser vista e discutida entre professores e alunos, tratando de educação, tecnologia, filosofia, religião, sociedade etc.
Aos 48 min., a postura do professor de Sofia, ainda como o centro do saber, o Magister Dixt, e a aluna demonstrando a contradição entre o discurso e a prática, a partir do conteúdo ministrado: Revolução Francesa. Um ótimo fragmento para discutir a formação de professores para o século XXI.
Aos 51 min., novamente Sofia põe a mão no espelho e o atravessa, apenas com os dedos, ao mesmo tempo que Alberto Knox, mergulha e retorna do lago onde a casa de Hilde está. Uma dupla imagem que me remeteu automaticamente a um dos temas que desenvolvi na minha dissertação de mestrado em Letras (área História da Literatura, FURG 2010), sobre a Autobiografia de Erico Verissimo e a consciência do fazer literário, em que, a partir do pensamento de Gaston Bachelard, em A Água e os Sonhos, reflito sobre a dupla face do espelho: enquanto constructo humano, de vidro e areia, que mantém-nos na superficialidade e o espelho das águas, onde nos aprofundamos e mergulhamos em nossas memórias...
A 1h e 20 min., Sofia e Alberto fogem da história produzida pelo major para sua filha, atravessando o espelho e saindo do outro lado desse, dentro do guarda-roupa de Hilde, o que remete minha memória cinematográfica diretamente às Crônicas de Nárnia - O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa.
Enfim, um filme que parece um jogo de cartas, um jogo de paciência, em que cada carta tem uma sequência e um sentido filosófico. A mensagem e a lição que filme e livro nos dão é a de que as ideias e o pensamento filosófico são eternos e vivem além de seus autores, sempre indagando sobre nosso entorno e nós mesmos... E que devemos estimular isso em nossos filhos e alunos sempre...
Abaixo, apresentação do referido filme, feita pelo You Tube:
O Mundo de Sofia (Sofies verden em norueguês) é um romance escrito por Jostein Gaarder, publicado em 1991. O livro foi escrito originalmente em norueguês, mas já foi traduzido para mais de 50 línguas, teve sua primeira edição em português em 1995, que atualmente se encontra em sua 70ª reimpressão. Somente na Alemanha foram vendidos 3 milhões de cópias.
O livro funciona tanto como romance, como um guia básico de filosofia. Também tem temas conservacionistas e a favor da ONU. Em 1999, foi adaptada para um filme norueguês; entretanto, não foi largamente publicado fora da Noruega. Esse filme também foi apresentado como uma minissérie na Austrália, se não em outros lugares. Também foi adaptado para jogo de PC pela Learn Technologies em 1998.Recentemente, em 2008 essa versão cinematográfica do livro foi lançado no Brasil oficialmente em DVD.
Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Mundo_de_Sofia
Links interessantes:
http://filoczar.com.br/o_mundo_de_sofia.pdf
http://www.sosestudante.com/resumos-o/o-mundo-de-sofia.html
Segunda parte do vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=Nmmv2YbsFYM
Junto com minha turma de Letras, estou começando um blog sobre Literatura. Irei, em breve, fazer um post com uma resenha sobre O mundo de Sofia. Gostaria de citar o teu blog nessa postagem. Espero q concorde. Irei te seguir, gostei muito da publicação. Se possível gostaria que seguisse de volta. Feeh mello.. ^^
ResponderExcluirOI, Feeh, fique a vontade para usar a postagem. Passarei a segui-la, sim. Sucesso ai. Um abraço, Zé Roig
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