segunda-feira, 19 de julho de 2021

Alimentando a criatividade: o prazer da escrita na voz de Elizabeth Gilbert, autora do livro "Comer, Rezar, Amar", que inspirou o filme de mesmo nome




O vídeo acima, Alimentando a criatividade, é uma palestra feita ao TED por Elizabeth Gilbert, autora do livro de memórias "Comer, Rezar, Amar", que foi adaptado para o cinema, tendo como protagonista a atriz Júlia Roberts, audiovisual que descobri via YouTube.
Em tempo: TED "é uma série de conferências realizadas na Europa, na Ásia e nas Américas pela fundação Sapling, dos Estados Unidos, sem fins lucrativos, destinadas à disseminação de ideias – segundo as palavras da própria organização, 'ideias que merecem ser disseminadas'".
Recomendo, primeiro, que ativem as legendas, se não entrar no modo automático, clicando no ícone no canto inferior direito da janela de exibição do vídeo, que lembra uma folha com 3 linhas, depois no ícone que parece uma engrenagem para escolher o idioma de tradução.
Sobre a fala de Elizabeth, cabe destacar a importância do contar histórias, sejam reais, mitológicas ou ficcionais, remonta à Antiguidade da humanidade, e é uma forma de combater o esquecimento. Escrever é um ato também de autoconhecimento, como bem relata o livro de Gilbert. Escrever é mais do que buscar o sucesso, a fama e a fortuna. Escrever é ter o que dizer, primeiro para si, depois para os outros. É uma catarse, uma válvula de escape, um jeito de compreender a própria existência. A literatura de ficção está aí para provar que é mais permanente do que as notícias de jornais, os livros didáticos de histórias, que estaõa sendo reescritos com o passar do tempo, como um palimpsesto, enquanto Homero, Dante, Maquiavel, Cervantes, Shakespeare, Machado de Assis, quando muito têm suas obras revisadas por alterações gramaticais e ortográficas. A arte é universla e atemporal, enquanto as tentativas de capturar o instante, logo são desfeitas por novas evidências. Escrever, pois, é uma forma de conservar e consertar o próprio tempo, abrindo possibilidades nas lacunas da história, reinterpretando fatos, provocando reflexões, como a filosófica. Enfim, desdobrando-se sobre a própria escrita, como a metalinguística.
Elizabeth rompe com os ester[otipos do que é ser escritor, entre missão e vocação, arte e ofício. Rompe com a ideia de que criatividade e sofrimento, angústia, estão associadas ao ato de escrever ou ser artista da palavra. Gilbert parte da premissa que incentivar a criatividade requer romper com essa ideia, principalmente para as próximas gerações. Que escrever não precisa ser necessariamente uma forma de fazer terapia, de lidar com seus monstros interiores, mas pode ser uma forma de estar no mundo, ver o mundo, falar desse mundo, sem estigmas e preconceitos. Que o escritor pode ser uma pessoa que escreve por ter o que dizer...
Gilbert reflete também sobre como lidar com o suceso e não ficar preso a apenas um livro, trata de liberdade de criação e fala iclusive do distanciamento entre obra e autor, que o leitor precisa ter... E nessa fala, faz um percurso histórico do como a criatividade foi tratada por gregos, romanos, depois na era medieval, como intervenções divinas ou sobrenaturais, como "daemons", "gênios", "gnomos" etc. Na poesia, mesmo, era atribuída a criatividade às musas que vinham recitar versos ao poeta adormecido. Já no Renascimento o homem é colocado no centro da escrita e principalmente no Iluminismo, com Confissões de Rousseau. Entretanto, a criatividade, na contemporaneidade precisa ser nomeada pelo que é, digo eu, como a junção de esforço de um grande leitor em parceria com um bom escritor, que coincidentemente é a mesma pessoa em sua dupla face. Escrever é organizar ideias, planejar roteiros, articular as palavras buscando um resultado eficiente que convença o leitor.
Interessante a ideia que Elizabeth Gilbert raz de que quando a criatividade passa a ser vista na perspectiva de que o escritor não "ter" um gênio, mas poder "ser" o gênio da palavra, a própria literatura se reinventa, porém, numa perspectiva de humano e não divino. Mais que isso, ela trazer um testemunho de vida, sobre pessoas que nos trazem pequenas lições de vida, como a do cantor e compositor Tom Waits. Uma certa epifania, revelação, mas nada mística, como os antigos tratavam, mas como algo de descoberta mundana que dá sentido ao próprio ato de viver, escrever, seguir em frente...
Escrever, digo eu, sempre foi meio que colocar um manuscrito dentro de uma garrafa e lançá-lo ao mar pra ver em que praia irá chegar. Em tempos digitais, essa metáfora ficou mais abrangente e dinâmica, pois ser blogueiro, tuiteiro, ter um perfil digital pra produzir conteúdo faz de cada pessoa um escritor em potencial, que será lido por outras pessoas em qualquer "praia" digital do mundo... literalmente as ideias navegando pelo ciberespaço.
Então, penso eu também, "com meus botões", que escrever é tanto arte como fato [artefato], como arte e ofício [artifício], trafegando entre a criatividade e a persistência, entre o talento e a organização, entre as vozes dos grandes escritores do passado e os grandes dilemas da atualidade, numa imensa intertextualidade, interdiscursividade e polifonia [multiplicidade de vozes dentro de um texto].
Como bem destaca Gilbert, e que me proporcionou essas metáforas: escrever pode ser como fazer música e dançar com as palavras, como ela cita de viagem que a fez conhecer uma tribo na África. Escrever, penso, é fazer transcender as ideias á própria vida do autor. A entidade biológica um dia cessará seu ciclo vital na terra, mas suas ideias transitando através de palavras permenecerão entre os que virão depois até a eternidade... Ou usando uma expressão das Histórias em uadrinhos, do Fantasma: "O espírito que anda..." Escrever, de fato, é como adentrar um portal, como atravessar uma outra dimensão, como viajar no tempo e se teletrnasportar para mundos diversos, e, quando bem feito, promove o mesmo efeito no leitor.
Acredito que o ato de escrever está mais para o Eureka!, de Arquimedes, da descoberta do conhecimento dentro de nós, do que por uma experiência mística atraibuída às musas e deuses de um Olimpo qualquer. Arquimedes dizia: deem-me um ponto de sustentação e moverei o mundo. O escritor, quando encontra um argumento criativo, consegue com seu livro transformar o mundo do leitor, elevando-o também, além da linha horizontal e superficial da escrita.
Assim, a vida criativa deve ser vista na perspectiva de uma leitura de mundo também criativa, tentando ler as entrelinhas do tempo, as entrelinhas das falas, dos discursos do outro, do colocar-se no lugar do outro [empatia e alteridade], como o faz todo leitor que lê um livro e acompanha a voz do narrador. Encaremos a vida como uma imensa Biblioteca Viva em que cada pessoa é um livro, alguns abertos, outros com páginas arrancadas, outros com páginas brancas ainda por serem escritas. Não importa. Nçao se deve, ou não deveria, escolher um livro apenas pela capa, pois as aparências enganam, e só conhecendo a história de cada um é que podemos entender seu roteiro de vida... E dessa forma, escrever é um trabalho árduo, tanto quanto o de um artesão.
Abaixo, segue trailer do ótimo filme "Comer, Rezar, Amar", inspirado no livro homônimo de autoria de Elizabeth Gilbert:



Observação:
Esta postagem é de autoria de José Antonio Klaes Roig, professor, escritor e poeta, além de editor do blog Educa Tube Brasil. http://educa-tube.blogspot.com
José Antonio Klaes Roig ou Zé Roig, como gosta de ser chamado, possui o Prêmio de Professor Transformador [2020] e seu blog Educa Tube Brasil, o Prêmio de um dos melhores blogues educacionais do Brasil [2020], conforme selos estampados na coluna à direta desta postagem.

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