terça-feira, 5 de janeiro de 2016
A janela do hospital & a boneca viajante de Kafka (Intertextualidade entre cinema e literatura)
O vídeo acima A Janela do Hospital, descobri no Facebook do amigo Antonio Marcos, de Rio Grande, RS, Brasil e trata-se de comovente e surpreendente curta-metragem que trata de amizade, solidariedade e acima de tudo de imaginação, de fabulação.
A história é simples: dois idosos dividem o mesmo quarto de hospotal. Um tem uma espécie de bandagem e proteção nos olhos, que o deixa cego, enquanto o outro, deitado mais próximo à janela, aguarda para submeter-se a delicada cirurgia. Desta breve convivência surge a amizade. O que nao exerga depende do vidente para saber o que acontece lá fora. Um diálogo entre o concreto e o abstrato, a cegueira crítica e a imaginação, o pessimismo e o otimismo.
A forma como vemos o mundo e como narramos nossas percepções aos outros, depende muito de nossa história de vida.
Quando a enfermeira pergunta se Murray está pronto ele responde: "Pronto? Quem está pronto para essas coisas?" Então a enfermeira diz que está na hora, e Murray retruca: "Bem, se já é a hora, já é a hora". Algo que me lembra diálogo meu com uma colega que dizia que não estava pronta pra determinada coisa, ao que contra-argumentei: "Ninguém está pronto para nada, amiga. Nem pra nascer, viver, casar, separar, morrer. Simplesmente precisamos enfrentar as coisas quando elas acontecem".
A surpresa, ao final (não querendo fazer spoiler) é o retrato dessa fabulação que tanto pais como professores, enquanto contadores de histórias devem manter, como uma chama acesa, em cada filho e aluno.
E o mais interessante foi que no mesmo dia que descobri esse vídeo, encontrei também no Facebook esta imagem (logo abaixo), intitulada Kafka e a boneca viajante e um incrível texto que julguei ser ficção, mas para grande surpresa, após pesquisa, verifiquei tratar-se de realidade e de título de livro, e que reproduzo na íntegra, a seguir e que possui uma bela intertextualidade entre o cinema (curta-metragem), a literatura, a história e a história da literatura:
Franz Kafka e a boneca viajante
"Um ano antes de sua morte, Franz Kafka viveu uma experiência singular. Passeando pelo parque de Steglitz, em Berlim, encontrou uma menina chorando porque havia perdido sua boneca.
Kafka ofereceu ajuda para encontrar a boneca e combinou um encontro com a menina no dia seguinte no mesmo lugar.
Nao tendo encontrado a boneca, ele escreveu uma carta como se fosse a boneca e leu para a garotinha quando se encontraram. A carta dizia : 'Por favor, não chore por mim, parti numa viagem para ver o mundo'.
Durante três semanas, Kafka entregou pontualmente à menina outras cartas , que narravam as peripécias da boneca em todos os cantos do mundo : Londres, Paris, Madagascar…
Tudo para que a menina esquecesse a grande tristeza!
Esta história foi contada para alguns jornais e inspirou um livro de Jordi Sierra i Fabra (Kafka e a Boneca Viajante) onde o escritor imagina como como teriam sido as conversas e o conteúdo das cartas de Kafka.
No fim, Kafka presenteou a menina com uma outra boneca.
Ela era obviamente diferente da boneca original.
Uma carta anexa explicava: 'minhas viagens me transformaram…'
Anos depois, a garota encontrou uma carta enfiada numa abertura escondida da querida boneca substituta. O bilhete dizia: 'Tudo que você ama, você eventualmente perderá, mas, no fim, o amor retornará em uma forma diferente'".
Fato. Tudo que se ama, às vezes pode-se perder, mas se feito com amor, em amor, doutra forma retornará, seja através do reconhecimento e gratidão dos filhos e alunos, seja na satisfação própria em ter feito o seu melhor e contribuído para um mundo melhor, ainda que de forma individual, ou compartilhada com seu grupo social.
Entre uma janela de hospital e uma boneca viajante estão fabulações, imaginações, contações de histórias que fazem-nos mais humanos e mais depositários de nossa humanidade, de geração à geração. E estimular cinema, literatura, arte e cultura em geral, em atividades educacionais e sociais é essencial para que, ainda que ás vezes solitários, sejamos solidários com outros que passam pelo que já passamos e conseguimos superar. Viver é um grande desafio diário. Nem todos que enxergam veem o mundo ao redor, seja nos pequenos detalhes do cotidiano e na poesia dos dias, seja em coisas mais complexas, que requerem esses contadores de histórias para nos ver naquelas situações. Entre a filosofia e a pedagogia, está a arte e a cultura a nos interligar...
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bom dia, foi muito bom ler o seu blog.
ResponderExcluirPrincipalmente no seu comentário final sobre o texto de Kafta e o filme.
Obrigada, você hoje, apesar da data (2016) reforça no que penso para sala de aula: Sejamos "Luz" para os alunos.
Myriam
Oi, Myriam. Fico feliz em receber tua visita e teu comentário, após 4 anos desta postagem. Vem ao encontro do que penso que as postagens são manuscritos dentro da garrafa que não sabemos em que praia chegará. Muito obrigado e um abraço.
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