quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A Partida (cinema, educação e sociedade)




O filme A Partida, de Yojiro Takita, com comentário abaixo de Isabela Boscov, editora de cinema de VEJA, descobri primeiramente, via Twitter, através de indicação de uma amiga. Depois, loquei na seção de filmes de arte de locadora, aqui da cidade, e assisti encantado a história, que hoje indico aos visitantes e seguidores do Educa Tube, neste Dia de Finados, que prefiro usar a expressão Dia da Memória, utilizada nos EUA e Europa.



A Partida, filme japonês, ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2009. "Nele, um violoncelista japonês, após perder o emprego na orquestra, volta para sua cidade natal e começa a trabalhar com ritos funerários tradicionais."
Este reencontro com o passado é feito de situações, ora humoradas, ora emotivas. Um bom filme, para mim, é esse que flerta com ambos os sentimentos, pois assim é a vida: entre chegadas e partidas, entre perdas e ganhos, erros e acertos, tristezas e alegrias, frustrações e compensações, encontros e desencontros e por ai vai...
A vida é agridoce, ora amarga, ora doce... E precisamos valorizar aquilo que de fato é relevante e que fica preservado em nossa memória - que chamo de nossa pequena máquina do tempo portátil.
Como educadores, podemos usar fragmentos deste filme para tratar justamente de coisas que num mundo tão descartável, em que tudo dura o prazo menor que a sua validade, de coisas que são imortais e universais: vida e morte, emprego e desemprego, vocação e preconceito, discriminação e liberdade, família e sociedade, entre outros. Um filme, cujo tema é a morte, mas que parece que passa de forma acessória pela trama, sendo a sua maior protagonista justamente a Vida, o saber aprender com as perdas, e reencontrar um novo sentido para a vida.
Se a vida passa como um filme, quando perdemos algum ente querido, um filme, por melhor que seja, é incapaz de dar conta da vida de alguém, mas pode ser um rico material para promover reflexões e motivações em indivíduos e grupos.
Cabe ao mediador selecionar as melhores cenas para trabalhar de forma colaborativa com seus alunos em sua disciplina, ou trabalhar de forma cooperativa com outros colegas, de outras áreas do ensino.
Um filme longa metragem, quando dois ou mais educadores juntam seus períodos de sala de aula, num espaço comum, como a sala de vídeo, ou outro espaço amplo, que permita a projeção do vídeo, já propondo aos alunos que observem e anotem aspectos que deverão ser discutidos após sua veiculação, ou em trabalho extra-classe e depois debatido em grupo, pode promover grandes e gratas surpresas a todos, pois o olhos e a inteligência coletiva ampliam a visão sobre um material, seja ele audiovisual ou não.


http://youtu.be/vNV5SxbTvKA
A PARTIDA - TRAILER DO FILME, OSCAR DE MELHOR FILME ESTRANGEIRO EM 2009.

Vejam também a resenha crítica de Elton Almeida, para o portal Cultura de Bolso (link abaixo), sobre este bela película que venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2009, disputando com outros 2 filmes fantásticos: Entre os Muros da Escola e o israelita Valsa com Bashir (este último, que ainda não assisti, mas li resenhas críticas favoráveis).


A Partida, por Elton Almeida


A seguir, fragmento da referida resenha crítica:

(...) O filme se concentra em Daigo Kobayashi (Masahiro Motoki), um ex-violoncelista, que possuía um trabalho socialmente elevado de tocar numa grande orquestra em Tóquio, que, de repente, é dissolvida por seu dono. Daigo, precisando de dinheiro, retorna à sua cidade natal, junto com a esposa, no norte do Japão, e lá consegue um inusitado emprego: torna-se um “nokanshi”, uma espécie de coveiro especial, mestre em lavar e vestir cadáveres. Essa função advém de uma antiga tradição japonesa, de deixar o morto limpo, belo e bem tratado para seu último momento, função antes exercida pelas famílias dos mortos, mas já meio esquecida e agora por conta de profissionais. Com esse emprego, Daigo consegue o dinheiro que estava precisando, mas esconde seu emprego da mulher e amigos, pois tal função é vista como algo vergonhoso e, no início, até ele assim a vê, como algo desprezível, o toque com o dejeto mortal.

É interessante observar como essa mudança na vida do protagonista engloba vários aspectos. É uma volta para a cidade natal, mas, além disso, uma volta para o passado, para o contato com pessoas de outrora e com traumas de outrora – o relacionamento mal resolvido com o pai ressurge de forma decisiva. Essa volta também é uma representação quanto à nova função de Daigo: em um Japão cada vez mais “moderno” e ocidentalizado, ele passa a lidar com uma antiga tradição tipicamente nipônica. Também, paradoxalmente, é uma época de novidade para Daigo, de lidar com a frustração no trabalho, de se adaptar, de refletir sobre sua vida e seu passado, mas também sobre a vida e a morte.

A análise que o filme oferece sobre a morte, aliás, é muito rica. Longe de clichês como “a vida é curta e é preciso aproveita-la” e “a morte é inevitável”, a trama, inicialmente, olha para a morte pelo lado material, tendo Daigo encarando as situações de seu trabalho como insólitas, ao lidar com corpos já sem vida. A morte é vista como algo plenamente corporal e o trabalho de nokanshi como um mero cuidado final com o corpo de um animal – e há uma comparação indireta muito boa, quando, após realizar um trabalho, Daigo chega em casa e há um frango morto, aos pedaços, em uma vasilha, esperando ser preparado e o protagonista fica nauseado. Mas, conforme o personagem vai se adaptando à profissão, mais ele começa a perceber o sentido e a importância desta. A morte deixa de ser vista como plenamente material, e o diretor passa a extrair poesia e beleza dos últimos momentos do corpo na Terra. O trabalho do nokanshi é então compreendido como uma função nobre, que “limpa” o morto e dá-lhe a beleza que era sua em vida, deixa-o da melhor forma possível para que sua partida deste mundo seja digna, para seu último adeus para a família seja belo. Várias cenas, em que vemos a relação da família com o morto que está sendo “preparado”, são emocionantes ao mostrar a verdade do relacionamento entre esses, seja como um adeus triste e lamentador, seja como um momento de aceitação da pessoa como ela foi em vida ou como uma despedida feliz por terem vividos juntos e sido felizes.
(Elton Almeida).

ABAIXO, a primeira parte de um total de 14, do mesmo filme, intitulado "DESPEDIDAS" e legendado em espanhol, que encontrei no You Tube (as demais partes estão na coluna da direita do portal):

DESPEDIDAS (A Partida), legendada em espanhol - Parte 1/14

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