quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Cidade Invisível: seriado que remete ao Sítio do Picapau Amarelo [em versão para adultos] e outras referências imaginárias e intertextuais: cinema, literatura, televisão, folclore e sociedade




O vídeo acima é o trailer de série brasileira da Netflix, chamada Cidade Invisível, em sua primeira temporada, que comecei a ver no streaming e achei bem criativa e intertextual, pois mostra as lendas e personagens do folclore brasileiro (Curupira, Boto cor-de-rosa, Cuca, Iara, Saci etc), humanizadas, disfarçadas, vindas da floresta, e convivendo com os humanos na cidade, envolvidas numa trama de suspense, a partir da investigação de um policial.
Intertextual, pois me remeteu a três casos semelhantes entre a mitologia, a literatura e a realidade:
- Primeiro, ao famoso O SÍTIO DO PICAPAU AMARELO, de Monteiro Lobato, uma obra-prima da literatura infantojuvenil brasileira, adaptada pra a TV brasileira nos anos 70, 80, que mostra um lugar encantado, na zona rural, onde justamente os netos da dona Benta, Pedrinho e Narizinho convivem com o Saci Pererê, a Cuca, o porquinho Rabicó e outras lendas e personagens do riquíssimo folclore nacional, além de uma boneca de pano, chamada Emília, e um sabugo de milho esquecido numa biblioteca, que adqurire vida e inteligência entre os livros, intitulado de Visconde de Sabugosa, estes dois inexistentes no seriado Cidade Invisível, que considerado um Sítio do Picapau Amarelo, numa versão adulta. Vejam a seguir o Episódio 01 - A Cuca Vai Pegar - Sítio do Picapau Amarelo (1977):



- No segundo caso, a intertextualidade é com outro seriado, da TV americana ABC, chamado ONCE UPON A TIME (Era uma vez), em sua 7ª temporada, em que as personagens dos contos de Fadas (príncipes, princesas, monstros, bruxas etc) convivem sem saber quem são, na pequena cidade de Storybrooke, pois suas memórias originais foram roubadas por uma maldição. Abaixo, o trailer da série:



- E, em terceiro, lembra também outra série (inglesa), denominada PENNY DREADFUL, em que na Londres vitoriana, as personagens dos contos de terror convivem com as pessoas da cidade. Nela se escondem o Dr. Frankestein e seus monstros, Dorian Gray, vampiros, e outras personagens góticas do século XIX, em plena Revolução Industrial. “Dreadfuls” e “Penny Bloods” eram os nomes dados aos folhetins que circulavam entre o público leitor daquela época, popularizando histórias fantásticas, sinistras e violentas. A série foi produzida pela HBO e teve 3 temporadas e um Spin-off [Penny Dreadful: City of Angels]. Abaixo, trailer da 1ª temporada da série original:



Cidade Invisível, apesar de e graças a essa intertextualidade, consegue ser criativa, autêntica e original, sem ser mero pastiche, colagem, imitação. Ambientanda entre a floresta e a cidade, com bela fotografia, ótimo elenco e roteiro, consegue cativar o espectador adulto, para a história de mistério e suspense, sem cair na mesmice.
Quando vi O Sítio do Picapau Amarelo, na infância e adolescência, era um de meus programas preferidos, junto à famosa Sessão da Tarde, aprendendo muito sobre História, Ciência e cultura em geral, a cada capítulo da série, justamente por esse trânsito do folclore, da arte e da cultura num reino encantado, o das Águas Claras. Tínhamos, então, no Brasil um reino mágico, como o de Oz, Nárnia, Terra do Nunca, País das Maravilhas e outros mais, da literatura mundial.
Memória, História, Folclore, Arte, Cultura, Literatura, Cinema e Educação transitam por esses audiovisuais e podem ser ótimos materiais para discutir linguagem (televisiva, cinematográfica, literária), leitura (de imagens e palavras), escrita (criativa, intertextualidade, referências, criatividade) etc.
Nossa bagagem de vida traz na mochila, contida, muitas destas referências cinematográficas, literárias e televisivas aliadas às experiências e vivências. Lembrei-me até da máxima de Nietzsche (1844-1900): "A arte existe para que a realidade não nos destrua".

Observação:
Esta postagem é de autoria de José Antonio Klaes Roig, professor, escritor e poeta, além de editor do blog Educa Tube Brasil. http://educa-tube.blogspot.com
José Antonio Klaes Roig ou Zé Roig, como gosta de ser chamado, possui o Prêmio de Professor Transformador [2020] e seu blog Educa Tube Brasil, o Prêmio de um dos melhores blogues educacionais do Brasil [2020], conforme selos estampados na coluna à direta desta postagem.

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