quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Memórias gestuais


Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=lmavAjaVu84

O motivador vídeo acima, foi indicação indireta, via twitter, do professor Francisco Goulão, de Espinho, Aveiro, Portugal, editor do blog Professor Surdo Francisco Goulão .
Indico o trabalho do prof. Goulão aos educadores, visitantes e seguidores do Educa Tube, como exemplo de atividade integradora, unindo arte, cultura, educação, tecnologia e sociedade.

Abaixo, apresentação no You Tube, do vídeo acima:

Francisco Goulão, é professor de Educação Visual no Centro António Cândido, Porto, há mais de 14 anos. No entanto, sempre se empenhou nesta profissão durante 32 anos, após se licenciar em Pintura pela Faculdade das Belas Artes da Universidade de Lisboa. E é Surdo de alma e coração, tem 58 anos de idade. Falamos do Professor Surdo Francisco Goulão.

Tem sido uma figura de referência incontornável para muitos Surdos que, na maioria deles, foram seus próprios alunos, não apenas como por entre muitos membros da comunidade Surda, pelo menos, da última geração em que a internet e outros géneros tecnológicos que hoje conhecemos, como o telemóvel, não eram ainda a realidade.
Na altura, havia só jornais em papel que eram acessíveis apenas para quem compreendia razoavelmente o português escrito. E o tradicional e eterno telejornal e outros jornais televisivos continuava a barrar aos Surdos, apesar das imagens de alguma forma elucidativas , o precioso acesso à informação como complemento.
O Professor Francisco Goulão era um dos escassos Surdos que dominavam a compreensão do português escrito e podia ler os jornais sempre que quisesse, mas também preocupava-se em informar e manter os Surdos actualizados do que se passava no nosso mundo em questões políticas e outras de natureza diversa e variada, tanto cá dentro como lá por mundo fora. Em outras palavras, procurava tirá-los da ignorância quase absoluta a que, na ausência de outros recursos possíveis, pareciam inevitavelmente condenados. Para esses mesmos Surdos, o Prof. Goulão era uma espécie de jornal 'vivo', do qual podiam ter acesso à informação generalizada.

O documentário propõe demonstrar, através das entrevistas, as situações pontuais em que como o simples vivenciar de um humilde Surdo numa normal convivência com alguém congénere da geração anterior como o Prof. Goulão, dotado dos conhecimentos que tinha pela simples capacidade de ler jornais, pode potenciar tanto as oportunidades de permitir a um Surdo quase funcionalmente analfabeto esculpir uma visão particular, pessoal e abrangente sobre a realidade externa, a partir da sua própria consciência intrínseca que, com e graças às conversas constantes, pôde desenvolver em grande escala. O elemento central para esta 'ponte da informação' era irrevogavelmente o uso da Língua Gestual. É um daqueles casos que se pode dizer que os gestos não só falam mas que também informam... E mais ainda, informando por vezes pode-se ensinar e aprender de diferentes formas, explorando inúmeros temas e questões por meio da conversa. Vítor foi um dos alunos Surdos do Prof. Goulão, com quem o compartilhar da rotina quotidiana, tanto dentro como fora de aulas, lhe trouxe benefícios e teve ainda enormes influências e impactos determinantes para a vida que leva hoje. Um dos exemplos mais flagrantes passou-se quando Vítor, já adulto, recebeu uma carta da Segurança Social e, em virtude das bases de orientações que recebera das conversas habituais com o Prof. Goulão, pôde entender, em geral e de forma clara, o conteúdo do que vinha escrito na carta. Uma situação aparentemente vulgar para outros, mas para ele, sem dúvida, um marco muito significativo e que vem realçar a importância do modelo Surdo que representa para os Surdos em idade escolar, para fins da construção da identidade pessoal e outros benefícios inerentes como, por exemplo, o crucial desenvolvimento das faculdades cognitivas.

Observação:

De 2005 a 2008 coordenei o projeto de informática na educação especial, parceria entre o Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) e as professoras da Educação especial da EEEF Barão de Cêrro Largo, do município do Rio Grande - Rio Grande do Sul - Brasil. Por sinal o NTE funciona em pavilhão da escola. A escola é reconhecida pelo seu trabalho de inclusão. Usamos o referencial teórico do Construtivismo, através dos conceitos da aprendizagem significatuva e da flexibiidade cognitiva, de certa forma, aproveitando a memória e o conhecimento prévio que os alunos trazem de casa, no processo de ensino-aprendizagem.

Foram 8 turmas, 4 em cada turno (manhã e tarde), com alunos surdos, cegos ou com baixa visão com deficiência mental e altas habilidades.
E posso comprovar que, apesar das limitações físicas ou neurológicas, o alunado, seja da educação especial ou do ensino regular, tem cada um o seu tempo de ensino e aprendizagem, e que o trabalho colaborativo entre multiplicadores em informática e professores especialistasem educação especial flui de forma harmoniosa, pois casa grupo precisava do auxílio do outro, também para incluir-se no universo do outro.
Eu e minha colega Janaina Martins, especialistas em TICs, precisávamos das professores da educação especial para promover a inclusão tecnológica, pedagógica e social.

Para os cegos, utilizamos o programa DosVox, recurso que permite o aluno ouvir cada tecla digitada e usar o micromputador em quase a sua totalidade.
Com os surdos, usamos muitas vezes MSN e chat para poder dialogar, já que não conhecíamos a Língua de Sinais (dependendo do professor parceiro). Alguns alunos integrados, como deficiência mental leve - com grandes dificuldades de raciocínio matemático - aprenderam com incrível facilidade a Libras, e muitas vezes acabaram sendo também nossos intérpretes informais, durante o projeto e nas atividades em sala de aula e no laboratório de informática. Enfim, o aluno não apenas como sujeito mas agente do processo inclusivo.

2 comentários:

  1. Este eu tinha visto, José Antônio, não me lembro nem se salvei! Muita coisa boa na Net, não é?
    Abraços

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  2. Oi, cara Fátima, se tem, Sabendo garimpar, encontramos verdadeiros tesouro. E se tivermos colegas e amigos que se unem nesse garimpam e socilizam uns aos outros suas descobertas, teremos uma preciosidadede achados colaborativos. Os ídeos que me indicasses são verdadeiros tesouros! Adorei a todos! Quando tiver outros me indique, que será uma satisfação imensa publicá-los aqui. Um raço e bom fim de semana, Zé Roig.

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