quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Além da Sala de Aula: cinema, educação e as pedagogias do Exemplo e do Afeto



O belo filme acima Além da Sala de Aula (2011), que incluo na série (marcadores) CinEducação (cinema e educação) deste blog, é inspirado na história de vida e no trabalho da professora iniciante Stacey Bess, que é contratada para dar aulas aos filhos dos sem-teto de um abrigo em Salt Lake City (EUA), em meados dos anos 1980, e que mostra como - através do que o Educa Tube chama de Pedagogias do Exemplo e do Afeto - a referida educadora consegue superar os medos iniciais de todo profissional, encaminhado para uma função sem a menor estrutura e com intuição, inspiração, cordialidade, vai superando preconceitos dela mesma em relação ao demais e dos outros em relação a ela própria. Tudo é improvisado no local, sequer existe uma escola, apenas um galpão que é utilizado como sala de aula precária.
Algumas anotações e reflexões do Educa Tube, durante e após assistir o filme (para os educadores lerem ao final do filme também, comparando suas impressões sobre o mesmo):

Stacey Bess é encaminhada pelo Dr. Ross até Mrs. Trumble, professora substituta em projeto experimental com alunos sem-teto. A história de uma professora do tempo da máquina datilográfica, do telefone discado e da fita de áudio K-7. Mal chega à "escola" e é recebida com advertência da profa. Trumble: "Quando as coisas saírem de controle, passe um filme, escreva seus nomes no quadro." A substituta que foge dali com certo pavor, não tem livros, acha que a merenda compensa, diz que as crianças se comportam como animais (alguém já ouviu isto antes, ou já passou por algo parecido?). E finaliza Mrs. Trumble, para espanto e medo de Bess, que aquilo é: "Uma creche de crianças a caminho do reformatório".
A novata professora vê no quadro a temida "Lista: Nomes Vergonha" e a apaga. Os alunos quando veem a nova professora chegar dizem: "A bruxa se foi e a palhaça entrou..."
Bess se identifica com Maria, aluna nova no local, assim como a nova professora, que mostrando sua família, casa e férias para crianças sem teto percebe as imensas diferenças sociais. Pede que compartilhem o que fizeram nas férias: uma foi visitar pai na prisão. Um trem passa, e parece um pequeno terremoto; um rato aparece, a professora o enfrenta, colocando-o para rua... Alunos se surpreendem que ela não gritou nem fez nada, a não ser resolver o problema com calma, depositando um bloco de concreto sobre o buraco de onde o rato saiu, quando o trem passou... As crianças terríveis para a outra professora, ficam fascinadas com a nova educadora. É deixada uma pulseira sobre a mesa com a frase: "Minha amiga". Bess passa a usá-la e ao final do filme se saberá quem foi que a presenteou. Vejam...
Não, definitivamente não era o que ela esperava de seu primeiro contato com o novo trabalho, e volta apenas para que seus filhos não saibam que ela desistiu... Quantas vezes não desistimos por causa de nossos alunos, família, vocação... Quantas vezes já pensamos em desistir, diante do cada vez maior desafiador ato de educar, e acabamos desistindo de desistir, por que amamos nossa profissão?
Dr. Ross, diretor de pessoal, não atende fone, não dá estrutura, não conhece escola, um burocrata do saber... Apesar disso, impossível que um bom educador não se identifique com a sua turma e não estabeleça uma relação de afetividade, a partir do diálogo e por conta dele...
Bess leciona para seis níveis de ensino juntos e uma constatação que tem: "Seis anos na escola e não me prepararam para isso...", criticando a própria formação que recebeu, que não a preparou para o mundo real. Ao seu redor, mesmos personagens comuns a toda escola, seja pública ou privada: a mãe fumante que delega à professora a educação de sua filha, o pai alcoólatra; alguns dependentes químicos, mas também pessoas que se importam umas com as outras e querem auxiliar, dentro de suas limitações.
Stacey Bess, sem receber material da instituição, loca vídeos em VHS (alguém se lembra do antigo videocassete?), mas a TV da sala é roubada por casal que troca o que encontra por drogas. Então, a professora escolhe como líder o aluno mais rebelde, Danny, e começa a pintar sozinha a sala, com tintas e outros utensílios, que a mesma adquiriu às suas custas. Um sem-teto a ajuda pintar sala de aula, uma aluna ajuda a limpar quadro negro. Ela gasta mais do que ganha com a sala de aula para mudar o espaço, antes abandonado. Dá voz aos alunos, através da emblemática figura do policial: para um a figura do policial é traumática por ter sido preconceituoso e desrespeitoso com a mãe sem teto; para outras duas meninas trancadas e abandonadas pela mãe, enquanto esta ia namorar, a figura do policial foi a do salvador. Ótima cena para discutir o maniqueísmo social, pois todos temos prós e contras, um lado positivo e negativo em nossas ações e omissões...
Bess é solidária e cooperativa, tanto que convida um idoso sem-teto, que é talentoso desenhista e pintor, para ensinar alunos a desenhar e pintar. Mais: delega a aluna Maria tocar o sino, chamando a turma para a aula.
O novo diretor de pessoal Dr. Warren, que vem substituir o burocrata Dr. Ross (aos 52 min. do filme), desconhece a quantidade de crianças no abrigo, pois os dados de alimentação vão para este setor, e ele não tem conhecimento da realidade. Assim como seu antecessor, jamais foi ao local. Mas ao conhecer a realidade local, passa a enviar material escolar (mobiliário e livros), até um piano de sua filha, que não tem mais utilidade em casa, doa para o abrigo. Uma mãe que conhece música toca com certo talento.
O exemplo e a afetividade de Stacey Bess são "componentes curriculares" de sua prática escolar e cativam tanto alunos como seus pais. Chega a adotar temporariamente a aluna Maria, quando o pai da mesma é expulso abrigo por beber. Por fim, as coisas começam a se encaminhar quando Bess promove a primeira reunião com pais, e ajuda a mãe de suas alunas a ler. O marido de Stacey, em curso de verão, passa a ser treinador de esportes. Uma educadora que sem recursos, conseguiu envolver uma comunidade carente, sem ter as condições ideias de trabalho, mas fazendo a diferença dentro de suas possibilidades. Um exemplo de como é possível desenvolver uma metodologia eficiente, sem ser refém da tecnologia (que pode ser uma ótima aliada, mas jamais o carro-chefe de um educador).
Duas pedagogias que o Educa Tube destaca: a do Exemplo e a do Afeto, presentes neste belo filme. Exemplo sem afeto, é repressão; afeto, sem exemplo é omissão... A junção dos dois, ou melhor, a intersecção de ambos numa pessoa, é que pode fazer toda a diferença... E para exemplificar isso, segue abaixo, um vídeo para ampliar a reflexão, chamado Mantendo a disciplina na sala de aula - Séries de Educação para Docentes que descobri no You Tube, e que "demonstra como a disciplina era mantida nas salas de aula tradicionais do século passado".



As Pedagogias do Exemplo e do Afeto podem ser o caminho mais longo, mas o mais certo de se chegar a algum lugar. E tem muito exemplo de colegas e amigos educadores, e de filmes sobre prática de outros professores, que relatam que exemplo e afeto precisam ser siameses na prática do educador, seja ele pai ou professor.
O filme Além da sala de aula, mostram bem isso... Sobre gestão escolar... A profa. Bess tinha um gestor que só se preocupava com a gestão de pessoal, ou seja, prover recursos humanos (mesmo que eles não tivessem a menor estrutura de trabalho, pois estrutura era com outro)... Quando do segundo gestor, em uma cena, ela diz que tinha 20 alunos sem-teto, ele se surpreende. E ela comenta: mas o Sr. não lê meus relatórios de merenda? E ele diz: isso vai direto para o encarregado do setor de alimentação. Pois é, ele e seu antecessor jamais foram conhecer o local. Mas ai, quando in loco, e a coisa muda completamente... Burocracia não tem afeto e é sempre um mau exemplo...
E eu fico me perguntando: O que fazer com os tablets, daqui 6 meses, no máximo, 1 ano, quando inventarem outra maravilha tecnológica? Se a metodologia não mudar, é fazer mais do mesmo sempre, com um "brinquedinho" novo... Moderninho? "Modernoso"!
Para mim, na educação, tem só dois tipos: o educador e o burocrata do saber... O primeiro, esta no olho do furacão; o segundo, vê a educação a distância, bem distante mesmo... Que bom que existem professores desafiadores, como o caso de Stacey Bess e outros mais, que nos fazem acreditar que apesar das limitações, com exemplo e afeto podemos superar os desafios, sem esquecer de cobrar dos gestores, uma vista in loco para conhecer a realidade local. Redundância? Não, pois o mundo é redodno e dá muitas voltas...
Aproveito para destacar frase que a professora Marli Fiorentin, via Facebook, me escreveu, quando discutíamos justamente sobre as pedagogias do Exemplo e do Afeto, frase curta e profunda: "Nada convence como o exemplo e nada resiste ao afeto". Precisa dizer mais?

22 comentários:

  1. assiste 0 filme e o meu professor deu um trabalho para expor alguns quais as parte do filme onde se encaixava o dogmatismo

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    1. Fico contente de receber este relato. Infelizmente o link para download está temporariamente desativado. Assim que conseguir outro link, publico... Mas o educador que se interessar em conhecer este filme, se não achar em locadora, retorne mais adiante a este blog, para ver se o link foi reativado.

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  2. Olá José Antonio, Obrigada por suas resenhas. Assisti ao filme "Além da sala de aula" e compartilhei seu link na minha Fanpage do Facebook. Costumo socializar opiniões sobre livros e filmes que contribuem para uma pedagogia mais feliz e vou contar com o seu Blog.
    Abs
    Kassandra Brito de Carvalho

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    1. Oi, Kassandra. Fico sempre muito contente quando recebo relatos como o teu, pois este é o objetivo deste blog educacional: socializar descobertas minhas e de amigos e colegas a outros educadores. Vou procurar tua fanpage para curtir. abraços, Zé Roig

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  3. OLá Professor José Antonio. Tentei baixar o filme via seu blog e não foi permitido. Parece-me que o senhor tem que dar permissão para a minha participação. Posso contar com isso?

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    1. Oi, Izabel, não sei o que esta ocorrendo pois o filme em questão está para download em um blog chamado Baixar filmes grátis, que não sou editor, tampouco tenho como fazer autorização para terceiros... Até eu descobrir o que esta havendo com o meu link, veja este aqui, em que podes assistir ao filme online e se tiveres o Real Player instalado, fazer o download para a pasta meus vídeos de teu PC. Um abraço, Zé Roig

      http://www.supertelafilmes.com/2011/09/assistir-filme-alem-da-sala-de-aula-online.html

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    2. Oi, Izabel. retornando... Verifiquei e o que acontece é que tanto o link como o blog onde o filme Além da sala de aula estavam armazenados, não existem mais... O link que te enviei anteriormente, também foi desativado... Estou tentando achar outro link, pois tenho o vídeo comigo, mas por questões de direitos autorais, não posso publicá-lo diretamente no meu blog ou no You Tube. Apenas divulgá-los através de publicações já existentes na internet... É uma pena que não existe um canal exclusivo para educadores, que possibilite a utilização sem fins lucrativos de filmes e vídeos como este, em sala de aula. Enquanto isso, vou tentando achar algum link disponível... Um abraço, Zé Roig

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    3. Izabel, tente este link para assistir online, e fazer download, caso tenhas o Real Player >>> http://www.freetela.com/2012/10/alem-da-sala-de-aula-filme-online.html

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  4. Oi Izabel, graças a Juliana Seabra, no FB achei novo link
    https://www.youtube.com/watch?v=4BUOV6-L8Mo#t=36&hd=1

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  5. Olá José Antonio, sou a professora Marlene e acabei de descobrir seu blog. Adorei. Preciso muito e curto conteúdos nessa linha da afetividade. Gostaria de saber se posso colocar e indicar o filme em um projeto que estou desenvolvendo com os professores ou é copyrigth? Citei outro endereço, mas não sei se é permitido.
    Não consigo achar o símbolo. O que faço?




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    1. Olá. Este filme é ótimo pra debater co m professores. Eu o localizei no You Tube, mas creio que atividades sem fins lucrativos, de caráter interno, para apenas reflexão não impeçam sua utilização. Vou tentar me informar a respeito. Grato pelo contato.

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  6. Oi gostaria de lhe fazer algumas perguntas , para se possível responde-las..
    1- qual aspecto do filme mais lhe chamou atenção ?
    2- Indique uma crítica ou um comentário sobre os personagens ou as situações:
    3-quais cenas te provocaram manifestações positivas ou negativas ? e por quê ?
    4- já tinha conhecimento do tema abordado no filme ? se sim, acrescentou conhecimentos ao que vc já possuía ?
    5-Você identificou a mensagem que o filme quis passar ?
    6-No filme vc identificou erros ou atitudes que podem servir com mensagem para a sua vida pessoal e profissional ? qual ?
    7-faça alguns comentários sobre o filme por favor

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  7. Parabéns pelo belo trabalho, quanto aos colegas que querem baixar o filme, se vocês acessar o yotube com o Mozila Firefox, tem na barra de ferramentas do Mozila alguns links com o video dawload help na barra de ferramentas, dá para baixar e é gratuito https://www.youtube.com/watch?v=4BUOV6-L8Mo

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  8. adorei o seu blog , assista esse filme acho q você vai adorar falar sobre ele fala de duas professoras lindo de mais "Quando o coração chama"

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    1. OI, Elizia. Grato pela visita e comentário. Procurarei este filme que você indicou. Pelo nome, não conheço. Obrigado e um abraço, Zé Roig.

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  9. Ola minha professora pediu UM trabalho sobre esse filme..uma síntese sobre o filme e qual autor da psicologia mais se encaixa no perfil do filme..poderia me ajudar??

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  10. uma dúvida o ambiente em que se passa esse filme é informal ou não formal

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