domingo, 28 de março de 2021

"A coisa toda de trabalhar em casa": múltiplas funções e múltiplos ensinos e aprendizagens nas fronteiras entre o mundo real e o virtual




O vídeo acima, The whole working-from-home thing [A coisa toda de trabalhar em casa, tradução livre], é uma propaganda da Apple, uma das Big Techs (empresas gigantes da tecnologia), produzida como peça de humor, mas que também é uma provocação reflexiva sobre esses dias de "Home Office", de trabalho em casa, em tempos de pandemia global e todas as suas implicações. O vídeo [com legendas automáticas] conta a história de 4 colegas que se reúnem para produzir um material coletivo e online, no formato cooperativo [todos no mesmo nível] para um cliente, e todas as situações descritas, no campo dos negócios, se prestam para a realidade de famílias, de professores, de gestores e de todos os demais, pois todos já passaram por situações semelhantes em suas áreas de atuação.
Um material que descobri por acaso, quando procurava outro vídeo sobre o assunto [ainda não localizado, de um executivo que vestido de terno e gravata atravessa sua casa e depois a piscina sobre uma prancha de surf para acomodar-se do outro lado da área externa, numa mesa com notebook e conexão com a internet]. Se alguem localizar esse vídeo que assisti no Tik Tok e não encontrei no YouTube, agradeço, para "linkar" a esta postagem.
A pandemia, as regras de distanciamento, depois confinamento social trouxeram um impacto tremendo ao cotidiano de todas as sociedades. Nunca tivemos algo semelhante e por tão longo tempo. Foi preciso se readaptar, se reinventar, se transformar. Aqueles que tinham uma base de informática, foram os primeiros, mas, mesmo pra esses, era algo inédito, e nunca se trabalhou tanto em casa e no geral como atualmente. Tomando como exemplo eu mesmo: quando não estou diante de uma tela dando aulas online, em tempo real, estou diante de telas produzindo aulas, adaptando conteúdos para slides, pesquisando vídeos, textos, salvando em PDF, compartilhando em grupos de alunos, aplicativos e plataformas da escola, participando de "Lives", seminários, webnários, preenchendo formulários, com todo o desgaste físico e emocional que isso implicado. Tremenda exposição de imagem, exposição a dados e mais dados, interferências diversas: fone tocando, vizinho brigando ou tocando m´sica em alto e bom som, conexão caindo, equipamento se desconfigurando, aplicativo tendo que ser reinstalado etc.
Pais e filhos dividindo o mesmo espaço social: a casa. Cada um num cômodo, uns assistindo, outros sendo assistidos via telas e mais telas. Um novo comportamento familiar que necessitou de adaptação de tempos e de espaços. Situações que envolvem privacidade, tranquilidade ou falta de, organização, planejamento e muito mais...
Antes da pandemia, o sonho de consumo de muitos era poder trabalhar em casa, mais tranquilo, sem perder tempo com deslocamentos e tudo mais. Seu pedido foi realizado, disse o gênio da garrafa que não abrimos. Foi um vírus poderoso que causou toda essa transformação, fazendo até aqueles mais receosos de entrar na internet, ter um perfil em rede social, uma conta de correio eletrônico (e-mail), comprar com cartão de credito ou débito online etc, a se render a força do mercado digital. Aquelas empresas, as tais Big techs, que já eram gigantescas, aumentaram seu tamanho, riqueza e poder... Os maiores bilionários do planeta são dessa área.
Enquanto isso, pais e filhos, professores e alunos, líderes e liderados, chefes e empregados tiveram que conviver com essa nova realidade [o tal de "novo-normal", expressão que me dá calafrios, pois não tem nada de normalidade nisso]. Todos tiveram que descobrir múltiplas funções, e acabaram tendo também múltiplas aprendizagens [professores ensinando alunos e outros colegas a usar aplicativos, recursos tecnológicos etc, alémd e seu conteúdo curricular; alunos ensinando professores e colegas sem conhecimento aprofundado do mundo virtual, da cibercultura a ser adaptarem a esse "Admirável Mundo Novo", previsto em parte pelo escritor Aldous Huxley]. A inteligência coletiva e humana avançou nesse período junto à Inteligência Artificial. A brainstorm [tempestade de ideias] em um grupo... O trabalho colaborativo pressupõe um mediador [professor, genrente, maestro, mestre] que coordene as ações...
Enfim, o mais interessante nesse vídeo e nesse período que vivenciamos é que serviu para mostrar aos defensores de homescholling [ensino em casa], que nem todo pai tem como substituir o bom professor. Que o bom professor jamais será substituído por máquinas, por melhor e mais avançados que sejam seus algoritmos, pois nenhuma máquina tem a bagagem sentimental que um educador possui. Mas, em contrapartida, a pandemia mostrou que professores que têm ensino mecânico, robotizado, calcado na memorização, na chamada "decoreba", esses sim, serão substituídos por simples algoritmos que produzem textos, questionários e atividades nem tão criativas, originais, autênticas como as feitas pelo professor diferenciado. Mas que o aluno nem nota a diferença, conforme matéria veiculada na imprensa de certa universidade que substitiu os professores por uma IA - Inteligência Artificial e ninguém notou...
"A coisa toda de trabalhar em casa", não é tão simples como muitos imaginavam, antes da pandemia, nem tão complexa como àqueles que resistem a aderir ao mundo virtual. Não é uma peça de humor nem um drama, mas uma nova realidade, um novo mundo, um mundo possível diante do contexto epidêmico e pandêmicos que nos rodeia. Se sairemos melhores disso tudo, tenho minhas ressalvas. Mas o bom professor, certamente que sim e o bom aluno, idem, pois todos acabam aprendendo uns com os outros, e ensinando uns aos outros, em comunhão [digital], como diria o educador Paulo Freire. Desliga o microfone, liga a webcam, compartilha o vídeo, o som tá bloqueado, não estou vendo os slides... Quem não passou por isso alguma vez neste período?...
Hoje, as telas tomaram uma dimensão de janelas para o mundo, sejam as telas de telefones celulares, smartphones, tablets, notebooks, desktops etc. Assim como as telas de TV, de internet e tudo mais que nos proporcionam contato com a arte e a cultura, que são essenciais para manter nossa humanidade e preservar nossa sanidade mental nesses tempos de inclusão digital. Nem todos ainda foram incluídos, o que mostra a desigualdade social mundo afora. E a pandemia isso tudo agravou. E gravou nas telas, nos olhos, em nossa memória...

Observação:
Esta postagem é de autoria de José Antonio Klaes Roig, professor, escritor e poeta, além de editor do blog Educa Tube Brasil. http://educa-tube.blogspot.com
José Antonio Klaes Roig ou Zé Roig, como gosta de ser chamado, possui o Prêmio de Professor Transformador [2020] e seu blog Educa Tube Brasil, o Prêmio de um dos melhores blogues educacionais do Brasil [2020], conforme selos estampados na coluna à direta desta postagem.

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