terça-feira, 2 de abril de 2013

O crítico de arte e a avaliação dos professores (cinema e educação)



Vídeo acima, O crítico de arte, trata-se de cena do filme de animação Ratatouille, em que justamente o crítico Anton Egon analisa uma receita culinária e depois faz solitariamente, em seu escritório, uma breve e profunda reflexão sobre o ofício do crítico de arte que serve como paralelo ao papel da avaliação pelo educador.
O referido vídeo descobri através de indicação via Fecebook de Ricardo Antunes, educador de Mangualde, Portugal e editor do blog Prosear.
Abaixo, reproduzo a postagem de Ricardo Antunes, no Prosear.
Primeiro, Ricardo fala de sua experiência profissional: "Tenho, como sabem, passado por muitas escolas nos últimos tempos. O tema mais discutido, na maioria dessas visitas, é a avaliação. Avaliação dos alunos. Avaliação dos professores. Avaliação das Escolas. Ora, sobre a avaliação dos professores, pelos seus pares, me lembrei hoje ao ver, com o meu filhote mais novo, uma das cenas finais do filme Ratatouille, no discurso do crítico de culinária, Anton Ego. E, porque me pedem por vezes materiais, aqui fica o dito discurso, adaptado ao contexto da avaliação de professores. Para refletir".
Depois ele promove esta adaptação do contexto artístico da animação Ratatouille para o contexto escolar, conforme sua ótimo tradução/adaptação abaixo:

De certa forma, o trabalho de um avaliador é fácil. Nós arriscamos muito pouco. Gozamos de uma posição vantajosa e superior sobre aqueles que submetem o seu trabalho, e a si próprios, ao nosso julgamento. Muitas vezes vibramos com as críticas negativas, que são fáceis de escrever e de ler. Há, contudo, uma verdade (às vezes amarga) que nós, avaliadores, temos que encarar: é o facto de que, no grande esquema das coisas, até a mais medíocre prestação tem provavelmente mais significado do que todas as nossa críticas e avaliações.
Só há um momento em que um avaliador verdadeiramente arrisca algo, e isso ocorre na descoberta e na defesa de algo novo. O mundo é frequentemente injusto com os novos talentos, com as novas criações e com os novos amigos.
Um destes dias, experienciei algo novo: uma aula extraordinária preparada por uma fonte singularmente inesperada. Dizer que tanto a aula como quem a preparou desafiaram meus preconceitos sobre o que deve ser uma boa aula é uma grosseira simplificação. Ambos me abalaram até à medula.
No passado, critiquei, como sabem, a ideia de que qualquer um pode dar aulas, mas só agora verdadeiramente percebo o que ela pode querer dizer. Nem todos podem tornar-se grandes professores, mas um grande professor pode surgir em qualquer lugar e a qualquer momento.


Depois de ler a postagem de Ricardo e assistir a cena do referido filme, lembrei-me de artigo de Andréa Cristina M. Araújo, que trata justamente da complexidade do tema Avaliação, vejam link abaixo:

A avaliação do desempenho escolar como ferramenta de exclusão social

Lembrei-me também de duas situações envolvendo arte e educação. A primeira, em 1985, quando eu estudava no ensino médio e comecei a participar de meus primeiros concursos literários, em âmbito escolar e regional. Com a redação Sangue Farrapo, que homenageava o sesquicentenário da Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul, Brasil, ganhei o primeiro lugar no Concurso Literário promovido pela Brigada Militar (tenho até hoje a calculadora científica que foi minha premiação, além do certificado), e fiquei em segundo lugar em concurso promovido pela 18ª Delegacia de Ensino, hoje chamada de 18ª Coordenadoria Regional de Educação (que coordena as escolas dos municípios de Rio Grande, São José do Norte, Santa Vitória do Palmar e Chuí). Anos depois, além de educador, segui carreira literária editando livro de contos Realidade Virtual e ganhando alguns concurso literários nacionais e internacionais em conto e prosa. Somente depois de duas décadas deste concurso promovido pela 18ª. DE é que soube, através de uma professora que fez parte da banca examinadora, que meu texto foi considerado o melhor, mas ficou em segundo lugar pois os examinadores achavam que a redação não era compatível com a minha idade, pela profunda maturidade do texto. Eu tinha vinte anos, era um leitor contumaz, tipo rato de biblioteca (Ratatouille?).
No segundo caso, já poeta e escritor reconhecido, fui convidado para ser da comissão julgadora de concurso de uma instituição artística, cultural e literária, e para minha surpresa, havia um texto de qualidade superior aos demais, e os outros integrantes da comissão achavam que era era incompatível com a idade dos concorrentes, pois a categoria era juvenil, até 18 anos. Precisei intervir e contar o incidente acontecido comigo mesmo. Que provavelmente aquele candidato (a), não tinha identificação logicamente, deveria ser como eu, um rato de biblioteca (Ratatoiulle 2?).
Como avaliadores, precisamos conhecer não apenas o texto, mas o contexto da produção, e quando trabalhamos com alunos, apesar de a maioria não ter interesse em ler livros, principalmente de literatura, ser uma geração audiovisual, há sempre a exceção á regra, muitas vezes por ter sido incentivado no mundo das letras, desde a tenra idade, pelos pais e/ou responsáveis.
Como avaliadores, devemos ter como parâmetro, não apenas nossos gostos e visões de jundo, é preciso cada vez mais sondar o nosso entorno. Não sermos excessivamente céticos e críticos para não observar jovens talentos ao redor, ou quando muito, não os rotularmos como plagiadores, imitadores, apenas pelo fato de que a maioria não gosta de ler, escrever etc.
Avaliação e crítica deveriam sempre estar relacionadas à autocrítica, à pedagogia do Espelho, do estabelecer critérios justos e eficientes, e se errar, que seja para ambos, da mesma forma que se acertar seja com todos.
Comentei recentemente nas redes sociais que vejo com certo receio e preocupação notícias envolvendo reprovação em massa em Exames, sejam de ordem profissional, de avaliação estudantil, de carteira de habilitação... Ainda que a educação esteja em crise, por ser reflexo de uma sociedade desestruturada, a partir do próprio modelo tradicional de família que já não reflete mais a realidade usual, há que se pensar quais são os critérios dos avaliadores. Não serão rigorosos demais? Visam mesmo a apuração do conhecimento, ou são meramente eliminatórios e classificatórios?
Tenho muito medo daquele professor que se vangloria que com ele para passar de ano tem que saber muito e que somente meia dúzia passarão... Tive o privilégio de ter ótimos educadores, e professores vaidoso que se vangloriavam de reprovar em massa, exigindo do aluno, novato, iniciante, o mesmo conhecimento que eles tinha armazenado durante décadas, e que sabiam de cor e salteado, memorizado, de forma mecânica, como um autômato. Educar não é robotizar, tampouco ensinar não é fazer papagaio falar. Nem rato ser cozinheiro (Ratatouille 3?).
Quando a avaliação torna-se uma ferramenta de exclusão social, como bem demonstra o texto de Andréa Cristina M. de Araújo, citado anteriormente, há que se ver, se o avaliador não precisa ser também avaliado...
Avaliar o todo, texto e contexto como escrevi... Há muitos rótulos por conta de avaliações superficiais, as pessoas são mais do que etiquetas, e podemos romper com essa lógica, embora seja um trabalho árduo que requer envolvimento de toda a comunidade escolar...

Um comentário:

  1. Avaliar é propagar apenas uma das facetas do grande holograma que é a vida. Só posso reconhecer aquilo que sou, que sei, que conheço. Sendo assim, tudo mais, toda a riqueza e complexidade que me passa despercebida pelo simples desconhecimento não entra na conta - logo - uma avaliação não é uma sentença de totalidade, é só UM ponto de vista.E se resumir à este nada mais é do que resumir-se inteiro...

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