domingo, 18 de agosto de 2019
A surpreendente intertextualidade entre a ficção e a realidade, de "Como o fascismo se instaura silenciosamente" (música, poesia, literatura e televisão)
O vídeo acima Como o fascismo se instaura silenciosamente, encontrei no YouTube e trata-se de uma forma didática de mostrar através da Poesia e da Política as relações intertextuais entre ficção e realidade, a partir de cena emblemática e multi premiadada série The Handmaid's Tale, criada por Bruce Miller em 2017, inspirada no livro O Conto da Aia (1985), da escritora canadense de Margaret Atwood que encontra reflexos na contemporaneidade, devido a quantidade de regimes autoritários que vêm se instaurando mundo afora e que dispensa nomeá-los, já que estão bem expostos e impostos à sociedade atual, disseminando Fake News, discursos de ódio, intolerância religiosa, política, racial, sexual e muito mais.
O mais assustador é que no livro e seriado, de certa forma conta a trajetória de milícias e religião assumindo o poder e transformando uma nação em um estado totalitário, fanático e militarizado, dividido em castas, chamado de República de Gilead. Um país dentro do país, em que as leis não valem mais, que a opressão vigora, e que o poder é exercido exclusivamente pelos homens. Lembra algo?!? [Vide resenha literária ao final desta postagem].
As legendas da cena acima, do referido e impactante seriado me remeteram, de forma intertextual, primeiro aos versos da canção Monte Castelo (1986) da banda Legião Urbana: "Estou acordado e todos dormem todos dormem, todos dormem", quando a protagonista do seriado acima diz: "(...) Eu estava dormindo antes. Foi assim que deixamos acontecer. Quando aniquilaram o Congresso, não acordamos. Quando culparam os terroristas e suspenderam a Constituição, também não acordamos (...)". A vida imitando a arte?!?
No segundo momento, o vídeo em questão me remeteu ao poema equivocadamente atribuído, ora a Berthold Brecht, ora a Vladimir Maiakóvski, chamado "No caminho com Maikóvski", mas que é de autoria do poeta brasileiro Eduardo Alves da Costa. Abaixo, fragmento do supracitado poema, escrito em Niterói, Rio de Janeiro, Brasil, em 1936:
“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada”.
A seguir belíssima interpretação/declamação de Ivan Lima do poema "No caminho com Maiakóvski":
Por essas e outras que regimes autoritários perseguem terrivelmente poetas, escritores, filósofos, atores, cientistas e artistas, pois trazem luz à escuridão dos tempos que são cíclicos, ora de trevas, ora de luzes.
Dois ótimos vídeos para trabalhar questões intertextuais, inter e multidisciplinares (Filosofia, Poesia, Literatura, História, Memória, Cinema, Televisão, Tecnologia, Arte Cultura, etc).
Para complementar esta postagem, encontrei mais dois vídeos interessantes que ampliam a questão. Primeiro, uma criativa animação feita por Rodrigo Jolee, a partir de alguns versos do poema de Eduardo Alves da Costa e que serve para reflexão visual:
O outro vídeo é a resenha crítica de Tatiana Feltrin, sobre o livro O Conto da Aia, de Margaret Atwood que recomendo visualização:
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