quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Diário de Classe: O reality show da educação (a história de Isadora Faber)
Acima, imagem da página Diário de Classe (aqui o link para visitação), criada no Facebook pela aluna Isadora Faber, de 13 anos, que inspirada na blogueira escocesa Martha Payne, também resolveu relatar os problemas da sua escola em Florianópolis, Santa Catarina. E a partir deste gesto, a referida aluno tornou-se alvo também ao expor sua escola na rede social, sofrendo ameaças, algumas veladas outras nem tanto conforme vídeos abaixos (da aluna e de telejornal), e posterior reflexão do Educa Tube.
Depoimento de Isadora Faber, sobre o Diário de Classe, que consta no You Tube.
Acima, reportagem de telejornal a respeito da situação de Isadora.
DIÁRIO DE CLASSE: O REALITY SHOW DA EDUCAÇÃO, POR JOSÉ ANTONIO KLAES ROIG
O Educa Tube e mais precisamente seu editor, em função de seus quase 20 anos de educação (secretário de escola, assessor jurídico, técnico de suporte a laboratórios de informática, multiplicador de informática educativa e coordenador de núcleo de tecnologia educacional, e agora licenciado), vem expressar sua opinião sobre este incidente que pode, de fato, tornar-se um marco, um divisor de águas, o princípio, sim, de uma revolução na Educação.
Ainda é recente, e todos devem se lembrar do contundente depoimento da professora Amanda Gurgel, intitulado Resumo da Educação no Brasil, depoimento dado aos deputados em audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte, Brasil, feito em 10/05/2011, em que também denuncia as condições precárias da educação e dos educadores, e que igualmente causou um efeito catalisador nas redes sociais, ultrapassando, na época, mais de 10 milhões de visualizações no You Tube, dando entrevista até em programa dominical.
Agora é a vez de mostrar o ponto de vista dos alunos, na figura da menina Isadora Faber, de 13 anos, que ao criar a página DIÁRIO DE CLASSE, promoveu um debate nas redes sociais, e até a presente dada, mais de 174 mil "curtir" sua página pessoal.
O que Amanda Gurgel (professora) e Isadora Faber (aluna) têm em comum? Primeiro, o fato de expor algo que muitos sabem e poucos comentam, principalmente em público, e de fazerem de um jeito direto e objetivo, que provoca empatia com este público.
No caso de Isadora é mais emblemático, pois trata-se de uma menor de idade, que utiliza-se das mídias e redes sociais (algo ainda pouco utilizado na educação) para tornar público algo que deveria ser público, afinal, a realidade de uma escola pública deveria ser de conhecimento da sociedade. Mas nem todos que colocam os filhos na escola conhecem sua realidade. Existem muitos formadores de opinião que sequer entraram numa escola pública e a criticam sem o conhecimento de causa. Falam das consequências sem analisar as causas, que muitas vezes estão além dos muros da escola. Sempre digo que a escola é um reflexo da sociedade e não o contrário.
Quem acompanha o Educa Tube e o perfil de seu editor nas redes sociais deve lembrar as críticas feitas aos programas chamados "reality show", que confinam, na maioria das vezes jovens e belos em uma casa, durante 3 meses, disputando tarefas em troca de uma premiação milionária. E deve se lembrar de como tenho dito que seria interessante um Reality Show da Educação, para desmistificar algumas coisas e tornar cristalinas outras tantas. O Diário de Classe, de Isadora vem de encontro a este pensamento, pois descortina a realidade, nua e crua, de uma escola pública que poderia ser qualquer uma pelo país, do Oiapóque ao Chuí. Situações mostradas, como maçanetas e vidros quebrados, fios desemcapados, falta de educadores, ou professores despreparados, estressados, vivendo sob tensão etc não são problemas enfrentados apenas por esta escola municipal de Florianópolis.
Por conta do "fogo amigo", a questão vai além dos supostos problemas financeiros e de gerenciamento, já que, em função da repercussão das denúncias da menina e das supostas ameaças feitas a ela e a sua família, agora o foco passou a ser a diretora da instituição, o que remete a situação similar no futebol: quando não adianta mudar jogadores, troca-se o treinador, mas não se cobra responsabilidades da direção do clube. Há que se ter sempre um culpado, quando a culpa pode ser de um sistema arcaico, ainda com os pés plantados e virados para trás, no século XIX, mas com o olhar e o discurso para o futuro, no que um amigo cunhou a expressão "O Paradoxo do Curupira".
O que me preocupa nesta situação toda, nem é a situação precária da manutenção da escola - comum a outras instituições país afora, como já mencionado -, mas a forma de condução dada pela escola, diante de uma menor de idade, sua aluna, também exposta às pressões. O que me remete também a uma ideia que tenho seguidamente dito a amigos e em atividades de que existem muitos "discursos progressistas para práticas conservadoras". Lendo textos e vendo imagens sobre o incidente, me remeteu às práticas repressoras do século XIX até meados do século XX.
Quando leio projetos, participo de palestras, seminários, conheço regimentos escolares etc, fico encantado com a escola discursiva que se apresenta. Mas cadê esta escola progressista no mundo real? Existe de fato ou é ficção científica? Ou é apenas uma escola no papel ainda a ser reescrita? Ouço muitas falas (ou seriam meros discursos e boas intenções) sobre emancipar o aluno, de torná-lo crítico. Mas quando alguém como Isadora Faber coloca em prática estes conceitos, a própria escola é que reprime contundentemente o direito de expressar sua opinião, remetendo a situações que vemos em filmes sobre modelos conservadores de ensino, que deveriam ser relegados apenas ao cinema e ao passado.
A escola esta preparada para fazer, além da crítica a sua autocrítica? A escola pública está preparada para tornar-se de fato pública? Para aceitar as TIC, mídias e redes sociais, presentes no cotidiano do aluno, como instrumentos de ensino e aprendizagem, e não apenas uma visão superficial de meros brinquedos eletrônicos? Os gestores públicos e escolares, que nos discursos falam de capacitação continuada estão se capacitando continuadamente, ou é só retórica e nada mais?
Que o exemplo de Isadora, que está propondo que outros alunos façam o mesmo, via redes sociais, contando a realidade de suas escolas, ainda que preservem sua identidade para evitar represálias, seja estendido a professores e pais, para mostrar também as escolas que dão certo, projetos que são inspiradores, e existem e não são poucos, mas que a mídia tradicional se recusa a ver, dando holofotes apenas quando é algo desabonador ou polêmico. Nunca vi e espero ver algum dia algo inspirador tomar uma dimensão como estes fatos tristes, envolvendo alunos, educadores e escolas.
O Educa Tube foi criado justamente para mostrar o outro lado da educação, que poucos conhecem, às vezes sequer os colegas da escola sabem da criatividade de seu colega, muitas vezes pela absoluta falta de tempo de dialogar, pois o modelo atual, embora no discursos preveja espaços para trocas de ideias, de fato, nem sempre disponibiliza tal possibilidade, ou por falta de tempo, de recursos etc.
Um reality show na educação é uma ótima oportunidade para a sociedade deixar de ver apenas belos jovens fofocando e tramando uns contra os outros em busca de uma fortuna ao final, mas para ver a realidade nem tão espetacular das escolas públicas, mas que diz respeito ao futuro de seus filhos e da própria sociedade. Ou coimo já comentei uma vez: "ligar a consciência e largar o controle remoto".
Acredito que o bom educador não se sinta intimidado em ser filmado em seu fazer pedagógico. Muito pelo contrário, talvez possamos conhecer práticas fantásticas, que ficam confinadas a tempo e espaço restrito da sala de aula e de alguns privilegiados alunos. Enquanto outros, os ilusionistas ou os chamados "burocratas do saber" que fazem "vídeo enrolação" ou simulam dar aula (mais preocupados em cumprir os dias letivos e carga horária do que um conteúdo significativo), estes sejam expostos, não apenas as críticas dos alunos, mas da sociedade que preza por um ensino de qualidade.
Um reality show na educação é um espaço para que mude as prioridades de candidatos, que em tempo de eleição elegem a Educação como seu foco principal, mas após o pleito, "tudo fica como antes, no quartel de Abrantes". Sirva também para trazer a família (tão ausente deste processo) para junto da escola, apoiando atividades que visem a melhoria do ensino.
As TIC, mídias e redes sociais podem ser um grande aliado nesta revolução, desde que não sejam usadas apenas em determinado momento e depois percam o foco. O papel social de Amanda Gurgel e Isadora Faber é o de serem pioneiras em darem identidade a uma causa que é de todos, e por ser de todos não pode ficar reduzida apenas a suas protagonistas, sob pena de apenas estas arcarem com o bônus e principalmente com o ônus de defender algo que é de todos: uma educação de qualidade, com criticidade e visibilidade.
Para Isadora apenas um recado: Curti, comentei e compartilhei tua iniciativa no facebook, twitter e no meu Educa Tube. :-))
Para saber mais sobre este fato, vejam os link abaixo:
Diário de Classe - página no Facebook de Isadora Faber
Aluna vira alvo ao expor escola em rede social - notícia do Estadão
Após queixas de aluna no facebook diretora da escola admite gestão deficitária
Abaixo, para recordar, depoimento da professora Amanda Gurgel, sobre a educação:
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