segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O Substituto: o reality show da educação, apesar de ficção (cinema e educação)



O vídeo acima é o trailer do impactante filme O Substituto, de Tony Kaye, com Adrien Brody (O Pianista), como o professor Henry Barth e foi indicação via Facebook de Sara Macedo, de Rio Grande, RS, Brasil.
Pesquisando na web, encontrei-o completo e dublado no próprio You Tube e socializo abaixo link para visualização do referido filme, recomendando assistência de alunos do magistério, dos cursos de pedagogia e das áreas da educação, dos professores, mas acima de tudo, do pais e/ou responsáveis pelos alunos, pois considero este filme, apesar de peça de ficção, um quase reality show da educação (mostrando os pontos positivos e negativos do sistema de ensino atual, independente de escola, estado, país...), enquanto penso os chamados Reality Shows como mera peça de ficção de má qualidade, pois não retratam em nada o mundo real...
Link para assistir online no You Tube:

O SUBSTITUTO

Um filme essencial para pais, professores e aspirantes a educadores assistirem, de preferência em grupos, para após promover um debate sobre o que é narrado, que é parte da realidade de nossas escolas, pois a crise da educação é reflexo da crise da família e da sociedade, do modelo consumista, do TER mais do que do SER. Para discutir inclusive a formação dos futuros professores, que é calcada na teoria, mas que requer uma nova abordagem prática para este "Novo Mundo" em que boa parte dos pais se desonera de seu papel social de primeiro educador, que a escola é considerada por todos como a salvação da sociedade, mas que na verdade é apenas o reflexo desta.
Um filme que parece documentário, com o depoimento inicial de alguns professores que começaram como substitutos, que tem técnicas de animação - a partir de desenhos em giz num quadro negro estilizado, a cada nova cena - e que conta a história de um professor suplente em uma escola decadente... Uma pequena obra-prima que, apesar de ficção, considero sim um quase reality show (enquanto os programas que se dizem show de realidade, para mim, são mera ficção, encenação, jogo de interpretação de papeis). Imperdível e que todo pai deveria assistir junto ao filho.
O professor Henry Barth, um substituto que chega para cumprir um mês de trabalho em uma escola com alunos bem abaixo do nível das séries, mas que para a direção da mesma o mais importante é ministrar o currículo... Aquela coisa mecânica de que despejar informação é mais importante do que proporcionar o conhecimento. A própria palavra Substituto toma diversos sentidos durante a trama, ao meu ver, quando parece-me que os professores, em parte, tornaram-se substitutos dos pais. Mas professores são temporários na vida de um aluno e os pais é que deveriam ser permanentes. Entretanto, parece que para alguns, a situação se inverte, e os ensinamentos de bons professores se torna algo eterno na vida de alguns alunos. Infelizmente, para alguns alunos, os professores tornaram-se "substitutos" de seus pais...
Há cenas fortes, reflexivas, para diversas discussões:
- Diretora reclamando que sua escola se tornou depósito dos piores alunos do bairro e que usa a expressão "invadir território", como se a escola pública deve-se ser gerida como espaço privado e particular;
- Professor tentando passar DVD pra turma desinteressada e sequer ouvindo suas palavras (aqui, um pouco de despreparo e do que chamamos vídeo enrolação, que o aluno percebe o sentido do mero passatempo);
- Reunião de pais que poucos veem e quando aparecem é para a defesa irrestrita dos atos de seus filhos (atos às vezes injustificáveis que estes responsáveis justificam sem conhecimento da realidade);
- O bullying de alunos e pais contra professores estressados, despreparados, angustiados;
- Professores resistentes às mudanças, mesmo sabendo que o mundo mudou.
Apesar deste cenário caótico, que não foge à realidade de muitas escolas, mundo afora, Henry Barth, uma personagem, se assemelha a muitos professores que tentam conviver com seus próprios problemas e fazer a diferença na vida de seus alunos. Falta à educação e aos educadores uma nova psicologia educacional, do como lidar com a resolução de problemas, não apenas de conteúdos e competências, mas de relações humanas. É preciso pensar a educação como um sistema humano e não apenas um sistema de ensino preparatório de mão-de-obra ou para ingresso na universidade. Educar é muito mais do que isso, é estabelecer diálogo, troca de ideias, de experiências etc. E o educador - profissional do saber - precisa ter o mínimo de condições de trabalho, a começar com turmas menores, trabalho cooperativo com outros educadores (diálogo sobre dúvidas e certezas), apoio familiar e governamental, sem falar em boa remuneração, plano de carreira justo e motivador, capacitação continuada, avaliação adequada, material didático que possa ser construído a partir da realidade local e não de uma cartilha global.
Henry Barth, personagem de ficção e professor de literatura, que consegue empatia com os alunos e precisa conviver com problemas de ordem pessoal, tem muitas semelhanças com diversos educadores mundo afora, que se parecem com soldados largados no front (Vietnã, Iraque, Afeganistão), em um ambiente hostil e que precisam a cada dia lutar pela sobrevivência, com pouca munição e sem apoio de retaguarda... E o pior, que muitas vezes, como nos relata a história, é atingido pelo chamado "fogo amigo", bombardeado pelas críticas e cobranças da sociedade que nem sempre apoia o seu trabalho. Convenhamos que a analogia forçada não deixa de se aproximar perigosamente da realidade... E que a cada ano, mais difícil é a tarefa de educar quem vem para a escola carecendo de princípios éticos e outros mais, pois não lhes foi dado tais pré-requisitos sociais, mas muitos ganham dos pais e/ou responsáveis bens materiais como computador, fone celular, internet ainda em tenra idade... Dão a "arma" mas não ensinam a usar de forma adequada... Bens materiais que são descartáveis, enquanto bens sociais como gentileza, respeito, cordialidade, crítica e autocrítica são permanentes e necessários.
Uma fala de um professor é emblemática quando diz que vivemos em um "Holocausto publicitário, emburrecendo, sem competência pra nos defender, para preservar as nossas mentes". Noutra cena forte, a diretora é chamada de "fóssil e está extinta", diz empresário do ramo imobiliário, temendo desvalorização dos imóveis da região por causa do baixo rendimento escolar e de outros problemas na escola. Noutra, o pai exige da filha o que não conseguiu para si...
Se alguns professores se consideram invisíveis, perante sua turma, muitos alunos também se consideram invisíveis diante de seu educador. Falta justamente este diálogo. Quando o professor interage, os alunos participam, se apegam, esta invisibilidade cessa, mas é um processo longo, que requer certo preparo e apoio... O que se precisa substituir urgentemente é esta lógica de que professor é herói ou bandido, e que é responsável ou culpado por tudo que acontece, inclusive fora dos bancos escolares. Professor, substituto ou não, é ser humano, é profissional, não é Pai Substituto... tampouco Salvador da Pátria.
Recentemente li texto de uma colega e amiga que escreveu artigo de opinião para jornal aqui da região, a partir da conversa entre dos pais, um deles culpando justamente os professores pela tragédia na boate Kiss, em Santa Maria, que vitimou quase três centenas de jovens universitários, pois segundo um deles, se não tivesse ocorrido a greve dos professores universitários, os jovens estariam em casa. Um absurdo total, pois isenta de responsabilidade os donos do estabelecimento por superlotação e negligência, os músicos por imprudência em usar fogos em ambiente fechado e com material inflamável no revestimento acústico do teto, os órgãos fiscalizadores que não fizeram seu papel de fiscalizar tudo isso. Esquece este senhor que tratava-se de festa para arrecadar fundos para formatura, e se não tivesse ocorrido a greve, tal evento teria ocorrido em data anterior, sob as mesmas condições e não evitaria a tragédia. Tragédia mesmo é saber que o professor precisa ser super-heroi e ter visão de raio X, voar e tudo mais, na opinião de alguns pais invisíveis...
Vejam abaixo o link para o artigo mencionado:

DIÁLOGO NA TRAVESSIA, por Rita Perez Germano (educadora)

Enfim, o filme O Substituto promove esse diálogo e discussão sobre o papel do educador e da educação na sociedade. Como diz Barth: "Muitos de nós acreditam que podem fazer a diferença... e quase sempre nós acordamos e constatamos o fracasso". O sucesso depende do envolvimento da turma, dos colegas, da comunidade escolar, dos gestores escolares e públicos. Sem isto, o educador, por melhor e mais bem intencionado que seja, tornar-se-á refém dos próprios medos. Comprometer-se com o trabalho e comprometer a família e a sociedade com a educação deve ser muito mais do que estabelecer culpados, mas sim, incentivar e divulgar os acertos, que existem, mas que não aparecem no horário nada nobre da televisão e da mídia em geral. É mais fácil mostrar cenas de bullying do que projetos pedagógicos premiados.
Um filme provocador, com cenas fortes, que promove o debate e que finaliza com cena extremamente delicada, poética e apropriada para um professor substituto de literatura, lendo fragmento de A Queda da Casa de Usher, de Edgar Allan Poe, com a câmera circulando pela escola. O professor, de certa forma, é temporário na vida de um aluno, mas o educador (pai ou responsável) deveria ser permanente, eis a lição que o filme nos reserva.
Abaixo, uma das músicas da trilha sonora do filme, Empty (Vazio), de Ray LaMontagne:



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