domingo, 24 de novembro de 2013
Muito além do peso: muito além de um documentário sobre obesidade infantil
O vídeo acima Muito além do peso (Way Beyond Weight), trata-se de impactante documentário sobre obesidade infantil e me foi indicado via Facebook pela colega e amiga Lilian Baungratz de Oliveira, educadora de Santo Augusto, RS, Brasil e editora do blog Informática, Educação e Afins. Conforme apresentação do vídeo no You Tube:
"Obesidade, a maior epidemia infantil da história. 'Um filme obrigatório para qualquer pessoa que se importe com a saúde das nossas crianças' - Jamie Oliver. Pela primeira vez na história da raça humana, crianças apresentam sintomas de doenças de adultos. Problemas de coração, respiração, depressão e diabetes tipo 2. Todos têm em sua base a obesidade. O documentário discute por que 33% das crianças brasileiras pesam mais do que deviam. As respostas envolvem a indústria, o governo, os pais, as escolas e a publicidade. Com histórias reais e alarmantes, o filme promove uma discussão sobre a obesidade infantil no Brasil e no mundo".
Um documentário brasileiro, com direção de Estela Renner e produção Executiva de Marcos Nisti, e patrocínio do Instituto Alana. Traz entrevistas com diversos especialistas, nas mais variadas áreas, de nutrição à publicidade, de psicologia à educação etc.
Inicialmente, Jamie Olivier desvenda a lógica da mídia, que coloca homicídios em primeiro lugar noticiários, quando que estatisticamente o que lidera as causas de mortes são as doenças cardíacas, o câncer, os derrames; e, o mais impressionante: que as nossas crianças viverão 10 anos a menos que nós por conta dos hábitos alimentares, fast food, American way of life de lanchonetes, consumismo por brinquedos, sem comer frutas e legumes (os doces saudáveis, da personagem Sportakos, de seriado infantil Lazy Town), preferindo doces industrializados.
Já, Ann Cooper, chef, escritora e educadora demonstra os efeitos da alimentação pós guerra, da tecnologia da guerra que veio pro front da vida doméstica, mudando radicalmente a nossa relação com os alimentos... Começou nos EUA e tornou-se uma epidemia mundial, o que o Educa Tube sempre teve essa impressão e concorda. A grande mídia, que lucra com a publicidade paga, e o complexo econômico mundial, que nos impõe seu modelo consumista e individualista, fazem-nos de cobaias; as redes de lanchonetes produzem lixo demais para um simples lanche, com produtos industrializados, formando um hábito nocivos à saúde, principalmente das crianças, expostas a estímulos, como brinquedos e brindes.
A médica Danielle Andreoni comenta que diagnóstico de uma criança de apenas 9 anos de idade e com 62 kg de peso, por conta exames de sangue, aparentavam de uma pessoa de mais de 60 anos. Que o excesso de comida, pouca alimentação nutritiva e vida sedentária diante de telas sem praticar esportes, as crianças acabam envelhecendo precocemente.
Entretanto, conforme esclarece William Dietz, diretor da divisão de nutrição, atividade física e obesidade do Centro de Prevenção e Controle de Doenças, dos EUA, os pais não podem fazer boas escolhas se não existem boas escolhas para serem feitas, pois em muitas cidades não há boa nutrição nem parques disponíveis, e até o prosaico andar a pé até a escola tornou-se perigoso demais.
Pensando nisso, o Educa Tube parou para refletir sobre esta "Matrix" da sociedade, em que não apenas os considerados obesos vivem num mundo virtual, querendo ser ágeis, fortes, belos, saudáveis diante de telas de computador, criando perfis, avatares digitais.
Atualmente, não se pode mais deixar as crianças sozinhas, como se fazia antigamente, por causa das drogas, violência, abusos, medo etc. Há pouco espaço para prática de esportes nos bairros, Brincadeiras antigas (soltar pipa, andar de bicicleta, perna de pau, aro, cabra-cega, amarelinha etc) perderam espaço para os jogos eletrônicos. São os fast foods que determinam a lógica do consumidor, em que crianças chantageiam os pais, e são ditadores em miniatura, chegando a trocar na escola borracha e lápis por doces e salgadinhos. Falta uma educação nutricional e sobra propaganda e consumismo, marketing e consumo. Seja com presentes, brinquedos, seja oferecendo grandes porções de refrigerante e lanche. Pais sentem-se reféns de filhos e de grandes corporações. Uma mãe diz que este tipo de propaganda é uma covardia, e o Educa Tube concorda, pois o brinquedo sendo bom, a comida pode ser até a porcaria, e as vezes é... Mas o consumo esta garantido... Sem falar na enorme produção de lixo que um simples lanche proporciona de caixinhas, toalhas de papel, copos plásticos, canudos, guardanapos etc. Uma vez contei mais de 10 itens...
A indústria - seja do vestuário, de brinquedos, jogos, produtos de higiene, o que for - vive em torno deste apelo, viciante, de exploração infantil emocional; algo que lembra até a lógica do tráfico, de viciar o usuário... E que um tubo de biscoito recheado equivale a 8 pães franceses!
Percebam que didática a forma como é demonstrada a questão do açúcar no refrigerante, do óleo na batata frita.
Alex Bogusky, diretor de criação e publicitário, diz: "A TV é a babá eletrônica de nossos filhos e a TV é outra 'pessoa' para dentro de casa, mas não é qualquer pessoa, é um vendedor, e este intruso se intromete da vida familiar" e ótima sua metáfora (aos 45min,) do tamanho dos prédios e quem trabalha pra quem (reis, igreja, governos, corporações)...
Susan Linn, psicóloga, diz que "a grande tragédia é permitir o acesso de publicitários às crianças, e que a publicidade enfraquece o brincar criativo; brinquedos mais vendidos são ligados à mídia" (é um sistema bem organizado... uma rede intrincada de interesses econômicos, acima de tudo e de todos); brinquedos com chips, que basta apertar botões e fazem tudo sozinho... Brinquedos são como sapatos, feitos para não durar muito, perder a graça e incentivar o consumo, para crianças se enjoarem e pedirem outro, e outro ad nauseaum...
Pais falam da lógica do supermercado e do consumo, em que produtos como chocolate e salgados estão colocados do lado da fila do caixa, e enquanto esperam são testados a paciência pelos filhos que pedem, pedem, pedem, até que os pais cedem... Esta inversão de valores foi criada pelas corporações de forma bem elaborada. Nada é por acaso. E o curioso é que mesmo em zona rural não se acha verduras e legumes, mas refrigerante tem em toda parte...
As refeições hoje são feitas diante da TV sem diálogo familiar, a nova Matrix social. O lanche virou refeição, acompanhada não de água, mas refrigerante. Crianças tendo artrite e trombose, o que era doença de idoso.
Para a socióloga Isleide Fontenelle, houve um tempo na história que as pessoas consumiam apenas o que precisavam consumir em uma relação direta com a utilidade do que com a quantidade, algo que remete ao documentário História das Coisas. E que estamos perdendo a cultura alimentar, padronizando hábitos alimentares mundo afora, com os enlatados, sejam de comida, de filmes, músicas, etc.
Enfim, um documentário que proporciona uma profunda discussão sobre, não apenas, cultura alimentar, mas hábitos saudáveis de vida social. Algo que me remeteu ao filme MUITO ALÉM DO JARDIM, não apenas pela similaridade do título do documentário, mas por que nesta comédia de Hal Ashby, protagonizada pelo célebre ator e comediante Peter Sellers (Pantera Cor de Rosa entre outros vídeos), remete à figura de Chance, o jardineiro humilde e ingênuo, que sempre viveu, desde criança em uma mansão, até que o dono da mesma vem a falecer e ele acaba tendo que perambular pela rua sem destino. Chance nunca tinha saído à rua e só conhecia as coisas de seu jardim e tudo que sabia ver e falar era sobre jardinagem. Mas um dia, sentado no banco da praça, encontra um político em campanha que pensa que Chance fala por metáforas e incorpora sua fala ao seus discurso, sendo por conta disso eleito presidente dos EUA. Pensando em sentido inverso, nossas crianças estão expostas dentro e fora de casa a algo muito maior que o jardim que nem conhecem, mas que conhece seus hábitos e influencia sua vida como poucos.
Abaixo, entrevista com diretora e produtor do documentário Muito Além do Peso:
Vejam também, link abaixo, outro ótimo documentário que trata da questão de algo Muito além do brinquedo e da publicidade:
CRIANÇA, A ALMA DO NEGÓCIO
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