quinta-feira, 7 de novembro de 2013
O espelho e a janela: o inteligente e o motivado, por Daniel Godri
O vídeo acima Quem cresce mais o inteligente ou o motivado?, trata-se de fragmento de divertida palestra de Daniel Godri que me remeteu a texto de Marcos Meier "Elogie do jeito certo", por conta de sua intertextualidade.
Godri ilustra sua fala, dando os exemplos de Steve Jobs (o inteligente, o gênio que revolucionou à informática e o modo de vida da sociedade com seus inventos como o computador pessoal Macintosh, Ipod, Iphone, Ipad etc) e Bil Gates (o motivado, empreendedor e visionário, que soube perceber este rico potencial da informática melhor do que Jobs).
Já Meier, relata em seu site Educação e Psicologia, um teste interessante que foi feito com um grupo de crianças:
Psicólogos propuseram uma tarefa de média dificuldade, mas que as crianças executariam sem grandes problemas. Todas conseguiram terminar a tarefa depois de certo tempo. Em seguida, foram divididas em dois grupos.
O grupo A foi elogiado quanto à inteligência. “Uau, como você é inteligente!”, “Que esperta que você é!”, “Menino, que orgulho de ver o quanto você é genial!” ... e outros elogios à capacidade de cada criança.
O grupo B foi elogiado quanto ao esforço. “Menina, gostei de ver o quanto você se dedicou na tarefa!”, “Menino, que legal ter visto seu esforço!”, “Uau, que persistência você mostrou. Tentou, tentou, até conseguir, muito bem!” ... e outros elogios relacionados ao trabalho realizado e não à criança em si.
Depois dessa fase, uma nova tarefa de dificuldade equivalente à primeira foi proposta aos dois grupos de crianças. Elas não eram obrigadas a cumprir a tarefa, podiam escolher se queriam ou não, sem qualquer tipo de consequência.
As respostas das crianças surpreenderam. A grande maioria das crianças do grupo A simplesmente recusou a segunda tarefa. As crianças não queriam nem tentar. Por outro lado, quase todas as crianças do grupo B aceitaram tentar. Não recusaram a nova tarefa.
A explicação é simples e nos ajuda a compreender como elogiar nossos filhos e nossos alunos. O ser humano foge de experiências que possam ser desagradáveis. As crianças “inteligentes” não querem o sentimento de frustração de não conseguir realizar uma tarefa, pois isso pode modificar a imagem que os adultos têm delas. “Se eu não conseguir, eles não vão mais dizer que sou inteligente”. As “esforçadas” não ficam com medo de tentar, pois mesmo que não consigam é o esforço que será elogiado. Nós sabemos de muitos casos de jovens considerados inteligentes não passarem no vestibular, enquanto aqueles jovens “médios” obterem a vitória. Os inteligentes confiaram demais em sua capacidade e deixaram de se preparar adequadamente. Os outros sabiam que se não tivessem um excelente preparo não seriam aprovados e, justamente por isso, estudaram mais, resolveram mais exercícios, leram e se aprofundaram melhor em cada uma das disciplinas.
No entanto, isso não é tudo. Além dos conteúdos escolares, nossos filhos precisam aprender valores, princípios e ética. Precisam respeitar as diferenças, lutar contra o preconceito, adquirir hábitos saudáveis e construir amizades sólidas. Não se consegue nada disso por meio de elogios frágeis, focados no ego de cada um. É preciso que sejam incentivados constantemente a agir assim. Isso se faz com elogios, feedbacks e incentivos ao comportamento esperado.
Nossos filhos precisam ouvir frases como: “Que bom que você o ajudou, você tem um bom coração”, “parabéns meu filho por ter dito a verdade apesar de estar com medo... você é ético”, “filha, fiquei orgulhoso de você ter dado atenção àquela menina nova ao invés de tê-la excluído como algumas colegas fizeram... você é solidária”, “isso mesmo filho, deixar seu primo brincar com seu videogame foi muito legal, você é um bom amigo”. Elogios desse tipo estão fundamentados em ações reais e reforçam o comportamento da criança que tenderá a repeti-los. Isso não é “tática” paterna, é incentivo real.
Por outro lado, elogiar superficialidades é uma tendência atual. “Que linda você é amor”, “acho você muito esperto meu filho”, “Como você é charmoso”, “que cabelo lindo”, “seus olhos são tão bonitos”. Elogios como esses não estão baseados em fatos, nem em comportamentos, nem em atitudes. São apenas impressões e interpretações dos adultos. Em breve, crianças como essas estarão fazendo chantagens emocionais, birras, manhas e “charminhos”. Quando adultos, não terão desenvolvido resistência à frustração e a fragilidade emocional estará presente.
Homens e mulheres de personalidade forte e saudável são como carvalhos que crescem nas encostas de montanhas. Os ventos não os derrubam, pois cresceram na presença deles. São frondosos, copas grandes e o verde de suas folhas mostra vigor, pois se alimentaram da terra fértil.
Que nossos filhos recebam o vento e a terra adubada por nossa postura firme e carinhosa. Por Marcos Meier, mestre em educação, psicólogo, escritor e palestrante.
O Educa Tube destaca também as figuras mais que poéticas e filosóficas do espelho e da janela, utilizadas por Godri para propor uma reflexão (e espelho e janela tem justamente esta função de reflexo do mundo em que vivemos), para discutir a função de espelho dos pais e janela dos professores, pois cabe aos primeiros serem os exemplos para os filhos, dando-lhes valores e limites que serão posteriormente melhor trabalhados, junto à instrução escolar, pelos professores, estes grandes janelas para o conhecimento. Ambos, espelhos e janelas, pais e professores, mais do que destacar a inteligência de seus filhos/alunos, de fato, precisam saber motivá-los a seguir em frente, aprendendo com os erros, socializando os acertos, e incentivando as trocas de saberes. Esta geração audiovisual, que domina como poucas gerações antes os meios tecnológicos, de forma precoce, e que faz trocas entre si, precisa melhor trabalhar com os adultos, dialogar com os pais e professores, estabelecer uma melhor comunicação além das telas de seus aparelhos eletrônicos. Cabe aos adultos incentivar aos mais jovens a resolução de problemas, além do mundo digital, de terem autonomia e iniciativa, além dos multimeios, pois muitos jovens que enfrentam desafios digitais complexos, de repente "travam" diante de desafios do mundo real. E para estes travamentos biológicos não existe ainda um comando equivalente ao "control + alt + delete", tampouco um desfragmentador de memórias sentimentais... Vejo muito jovem querer liberdade mas não independência financeira, sendo sustentados pelos pais até quase sua terceira década de existência... E alguns, além disso... Unir a experiência de vida do educador - seja ele pai ou professor - com a curiosidade do jovem, o grande caminho para a educação e a sociedade. E, acima de tudo, ensinando aos jovens a valorizarem não apenas a inteligência, mas o esforço de cada um...
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