domingo, 30 de outubro de 2016
De quem é a escola? A quem a escola pertence? Aula de cidadania de estudante secundarista
O vídeo acima Ana Júlia assembleia legislativa do Paraná - PEC 241, descobri nas redes sociais e trata-se de fala emocionada e comovente da estudante secundarista Ana Júlia Ribeiro, de 16 anos, aluna do Colégio Estadual Manuel Alencar Guimarães, proferida na Assembleia Legislativa do Paraná, Brasil, representando as mais de 850 escolas e institutos federais ocupados no estado, na tarde de quarta-feira (26/10/2016), defendendo a legitimidade das ocupações e dando aula de cidadania aos deputados estaduais, em manifestação também contra o Projeto de Emenda Constitucional, popularmente chamado de PEC, de número 241, agora PEC 55, que congela por 20 anos recursos para educação, saúde e outras áreas.
Já no início de sua fala, Ana Júlia pergunta aos presente: De quem é a escola? A quem a escola pertence?
Pergunta que me faço sempre como educador e faço a outros colegas pois a escola só existe e os professores funcionários, prédio e tudo mais em função do aluno. O objetivo principal de uma escola existir é em função de educar alunos. A escola não é feita primeiro para empregar profissionais da educação. A escola é a própria educação viva e um direito fundamental e constitucional, tão importante como a vida.
Em minhas andanças por escolas, conversando com professores e alunos sobre metodologia, tecnologia, arte, cultura e educação, tenho descoberto muitos projetos pedagógicos relevantes, e alunos que se destacam por sua visão de mundo. Jovens que leem escrevem, produzem material audiovisual. Jovens que trazem em si conceitos que foram incorporados nos equipamentos eletrônicos como: convergência, mobilidade, portabilidade interatividade, intuitividade e muito mais.
Uma escola é reflexo da sociedade, mas uma escola democrática deve estar aberta à reflexão, e não cerceada em seu pensamento crítico. Deve-se estimular o debate de ideias, a argumentação, a réplica, a tréplica e não impedir que opiniões circulem, ou que só sejam admitidas ás que certas figuras políticas considerem válidas. br /> O próprio equívoco que alguns têm é de confundir ocupação com invasão. Ninguém invade algo quando defende o direito de uma educação de qualidade, melhoria do ensino, defesa de um direito constitucional aviltado por um projeto contrário ao bom senso. E em segundo plano, há que se posicionar contra outro projeto denominado "Escola Sem Partido", que se diz combater a doutrinação ideológica na escola, mas que tenta cercear o pensamento crítico de professores e alunos.
Primeiramente cabe definir o que é doutrina e ideologia, que por si só são essenciais em qualquer área do conhecimento humano. Existem doutrinas jurídica, religiosa, política, filosófica etc. Da mesma forma ideologia é algo além de questões partidárias. Todos têm uma ideologia que é justamente um conjunto de ideias sobre o mundo. A própria política é o exercício de representar e ser representado, de tomar decisões sobre sua vida e da sociedade, que vai além da questão partidária. Tomar partido sobre algo não requer obrigatoriamente estar vinculado a uma agremiação política.
A grande confusão está na postura dos próprios autores deste projeto (já criticado por juristas, jornalistas, professores e outras categorias), alguns destes idealizadores da "Escola Sem Partido", que são, sim, doutrinadores no sentido religioso e com mandatos eletivos, tentando impor aos outros sua visão de mundo, aliados a pseudo apartidários, que curiosamente foram eleitos recentemente, e que denúncia indicam que são financiados por grandes grupos políticos e econômicos.
Se de fato houvesse a tal doutrina partidária que acusam professores e alunos, quem sabe as câmaras de vereadores, assembleias legislativas e Congresso Nacional teriam cada qual sua bancada da Educação, quando na realidade vemos ter se formado a chamada bancada BBB: da Bíblia, do Boi e da Bala, ou, respectivamente, de doutrinadores religiosos, com suas igrejas, redes de rádio e TV, os grandes ruralistas e os policiais, além das bancadas de banqueiros e outros mais.
Se a Educação tivesse tal poder de doutrinação, alegado por seus críticos, o desmonte de programas sociais e educacionais não estaria em curso.
E o mais sério em tudo isso é o total desconhecimento por parte de alguns sobre a realidade da escola pública no Brasil, tentando legislar sobre o que não têm profundo conhecimento, inclusive recebendo propostas de pessoas sem nenhuma vinculação com a educação.
Segundo o escritor e semiólogo Umberto Eco: "Todos os textos escolares nazistas ou fascistas baseavam-se em um léxico pobre e em uma sintaxe elementar, com o fim de limitar os instrumentos para um raciocínio complexo e crítico", e impossível não pensar nesta citação, toda vez que projetos visam tão-somente cercear a opinião, o debate e ainda por cima, limitar recursos públicos à educação.
Pelo jeito, foi preciso uma estudante para dar uma aula de cidadania a quem deveria ser também professor, no sentido de ter conhecimento de causa e não apenas doutrinas vagas sobre um tema tão relevante e fundamental à própria sociedade.
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