segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O Fenômeno Carrossel: telenovela infantil que resgata valores e limites na educação



O vídeo acima, apresentação da telenovela infantil Carrossel, atual fenômeno da TV, ficando em segundo lugar em audiência em seu horário de veiculação, rompe com a lógica, às vezes perversa, da televisão brasileira, que apenas mostra o lado violento e cruel da vida.
Carrossel, que iniciou sua trajetória televisiva em 1966, na Argentina (com o nome de Jacinta Pichimahiuda, a professora que não esquece), teve sua 2ª. versão na TV mexicana, em 1989, já com o nome atual. Em 1991, a 3ª. versão no Brasil, sendo depois repetida pela mesma emissora (SBT), em 1993, 1995 e 1996. Em 2012, nova versão, e igualmente o mesmo sucesso, trazendo em seu rastro uma série de produtos, seja cadernos, álbuns de figurinhas, vestuário e uma série de produtos com a imagens de seus personagens.
Sem ser moralista mas realista, Carrossel conta com uma trilha sonora motivadora e contagiante, com uma história simples, mas resgatando valores e limites perdidos ou até mesmo inexistentes atualmente; e comprova na prática que para se conseguir audiência não é preciso apelação nem exploração de fatos violentos e escatológicos, como fazem a maioria dos telejornais e até mesmo as telenovelas.
A mesma trama de sempre e sempre atual é o que conta a professora Helena e seus alunos da Escola Mundial, com roteiro de Ísis Abravanel e direção de Reinaldo Boury.
Desta vez incorporando ao roteiro e universo das personagens as novas tecnologias, e temas atuais como bullying, racismo, preconceito, discriminação, deficiência (um dos próximos personagens a se integrar à trama será um menino cadeirante) etc, de forma simples e realista sem ser panfletária.
Confesso: sou fã da novelinha, e sempre que posso, passo os olhos nos capítulos e recomendo aos pais e educadores que assistam pelo menos um capítulo para verem como pode ser um ótimo material para interação e debate com seus filhos e alunos sobre os temas tratados.
E acredito que a televisão pode ser uma aliada ao processo de ensino-aprendizagem, se o educador, seja pai ou professor, souber filtrar da grade de programação o que de melhor tiver, contextualizando com o filho e aluno aquele conteúdo. Mais: poderá o educador se valer do acervo digital de diversos programas de TV que se encontram disponíveis em diversos vídeos e formatos, sejam completos ou em fragmentos no You Tube.
Lendo recentemente o livro Infância (1945), autobiografia de Graciliano Ramos, foi impossível não perceber as relações conflituosas entre a educação e o menino que se tornou um dos maiores escritores brasileiros, por conta de alguns professores severos e conservadores. Suas melhores experiências foram com uma professorinha, parecida com a professora Helena de Carrossel, tanto que aconselho a leitura deste livro por professores, não apenas da educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, como um exercício de autocrítica essencial ao bom educador.
A aprendizagem de Graciano Ramos, iniciada no final do século XIX, pelo pai que lhe mostrou as primeiras letras e os castigos de palmatória, se seguiram quando de seu ingresso na escola, já no início do século XX, com outros severos professores. Para ele, a escola era traumática, primeiro pela cartilha, depois o livro de histórias e o de catecismo, para em seguida a tabuada, sempre acompanhados da famosa palmatória. Dando as devidas proporções no tempo e espaço, a escola formal ainda continua, em alguns casos, a repetir um modelo que, embora tenha abolido os castigos corporais e as ameaças, continua ainda centrado na visão e exposição do professor, com os alunos enfileirados como meros espectadores de um monólogo exterior. O diálogo deveria ser uma constante e aqueles que o colocam em prática sempre colhem os frutos do que plantam na sala de aula... Educar, sempre digo, é dialogar, é estabelecer trocas de experiências.
Na descrição de Dona Maria, uma de suas primeiras professoras, Graciliano parece descrever, em parte a doce professorinha Helena de Carrossel:

"Felizmente d. Maria encerrava uma alma infantil. O mundo dela era o nosso mundo, aí vivia farejando pequenos mistérios nas cartilhas. Tinhas dúvidas numerosas, admitia a cooperação dos alunos, e cavaqueiras democráticas animavam a sala. (...) D. Maria nunca o manejou [palmatória]. Nem sequer recorria às ameaças. Quando se aperreava, erguia o dedinho, uma nota desafinava na voz carinhosa - e nós nos alarmávamos. As manifestações de desagrado eram raras e breves. A excelente criatura logo se fatigava da severidade, restabelecia a camaradagem, rascunhava palavras e algarismos, que reproduzíamos" (RAMOS, 1955, p. 113-114).

D. Maria, lá no princípio do século XX, fazia o que os bons educadores de hoje fazem bem: dar vez e voz ao seu alunado, se impondo pelos valores e limites de seu trabalho.
Para refletir, debater e divulgar, tanto a telenovela e alguns vídeos dela no You Tube, bem como a leitura do livro Infância, de Graciliano Ramos, que recomendo a todos os educadores.

2 comentários:

  1. Muito boa a postagem! Eu estou assistindo a novela Carrossel e estou gostando muito! Meus alunos também assistem! Aliás vou tirar algum assunto dessa atração para trabalhar em sala de aula!

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    1. Caro Dinilso, grato pelo comentário. Acredito que, apesar de tudo, há ainda uma boa parcela de programas televisivos que podem ser utilizados na educação, desde que contextualizados e usados com enfoque educacional, e a novela em questão é um desses casos. Bom trabalho em sala de aula e me mantenha informado. Um abraço, Zé Roig.

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