terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O suposto racismo em Monteiro Lobato: entrevista com Marisa Lajolo (uma aula de literatura e sociedade)



O vídeo acima Racismo em Monteiro Lobato, trata-se de entrevista com a "professora Marisa Lajolo, da Unicamp e da Universidade Mackenzie, especialista na obra de Monteiro Lobato, conversa com o jornalista Ederson Granetto a respeito da ação movida, junto ao Supremo Tribunal Federal, pelo Instituto de Advocacia Racial e Ambiental pedindo providências para o fato de o livro 'Caçadas de Pedrinho' conter o que o instituto chama de "elementos racistas". A professora contesta a afirmação e diz não encontrar racismo nos livros de Monteiro Lobato."
Considero esta entrevista uma pequena aula de literatura e de viver em sociedade, pois concordo que duas frases dentro de um contexto não configuram racismo, ainda mais pela explicação da professora Lajolo, que é uma profunda conhecedora da vida e obra do autor; e concordo igualmente com ela quando diz que "notas de editora, interferência, tutela e gerenciamento na leitura, e texto é auto-suficiente para colocar de forma adequada questões de racismo e preconceito na sociedade brasileira."
Conforme Lajolo, "o leitor bem formado percebe a solidariedade do narrador", e como diz Granetto "a personagem pode ser racista, e não o autor..."
Monteiro Lobato tem um papel fundamental na formação literária e identitária do editor deste blog, pela questão do imaginário de seus livros e personagens, principalmente do Sítio do Picapau Amarelo, transformado em seriado que divertiu gerações.
Erico Veríssimo até dizia que existem autores que são fecundantes de outros autores, e que ele atribuía a Monteiro Lobato o seu gosto pela literatura.
Lobato disse que "Um país de faz com homens e livros", e quem sabe, por causa dessa questão do politicamente correto, venham no futuro a acusá-lo de sexista, machista e tudo mais. Convenhamos, há que se examinar o todo e não apenas frases em separado. Na mensagem que o livro e obra transmitem e não apenas avaliações apressadas e/ou superficiais. Neste ponto, a opinião da professora Lajolo, para o Educa Tube, encerra esta questão de suposto racismo no livro de Lobato. Não se pode condenar um autor que escreve algo dentro de um contexto, por questões que passam a ser levantadas como polêmicas gerações e gerações depois... Se for assim, toda literatura universal poderia ser condenada a reescrita, o que é algo sem sentido...

"As palavras são pequenas formas no maravilhoso caos que é o mundo. Formas que focalizam e prendem ideias, que afiam os pensamentos, que conseguem pintar aquarelas de percepção." Diane Ackerman, in 'Natural History of the Senses' - Vintage Books, (1995).

Ainda sobre a obra de Monteiro Lobato, mais uma entrevista (abaixo) da professora Marisa Lajolo para Nova Escola:



Concordo plenamente com a professora Lajolo, de que a obra de Lobato não forma pessoas racista, pelo contrário, os torna solidários com as pessoas e todo tipo de opressão. E recomendo que assistam aos dois vídeos.
Para mim a obra de Lobato, principalmente O Sítio do Picapau Amarelo é tão importante como o universo criado por J.M. Barrie e seu Peter Pan e outros autores.
Uma boneca de pano (Emília) e o boneco feito com sabugo de milho (Visconde de Sabugosa) que esquecido entre livros, ambos ganham vida e interagem com outros personagens míticos e lendários do folclore brasileiro em um sítio encantado é uma obra por si só imortal.
Como leitor de Lobato jamais tive ideias racistas ao ler suas obras e assistir as adaptações da mesma para a TV e cinema. :-))
A título de contraditório (de mostrar o outro lado da questão), depois de descobrir o vídeo abaixo, com entrevista do Frei David Raimundo dos Santos, representante do Educafro, que considera que há racismo na obra de Monteiro Lobato.



Entretanto, por tratar-se de obra de arte, o Educa Tube, pensando na questão literária, endossa a opinião da professora Marisa Lajolo, uma das maiores especialistas em Literatura e na obra de Lobato. Não desmerecendo, logicamente, a opinião do religioso, embora com argumentos repetitivos e carecendo de maior argumentação técnica, do ponto de vista literário, desconhecendo inclusive o significado da expressão, que segundo Lajolo refere-se a andar em pernas de pau. E com todo respeito e liberdade de expressão - pensando em igualdade racial -, povo negro, povo branco, para mim só existe um povo: o brasileiro, e uma raça: a humana.
Evidente que atitudes racistas devem ser combatidas, mas há que se dar a devida proporção aos fatos, e dar o devido direito ao professor para que contextualize a questão em sala de aula... Um livro, quando bem escrito auto se explica, e faz o leitor refletir sobre o tema e mensagem que contém, sem a necessidade de notas explicativas nem manuais de interpretação...
Curioso que poucos que acusam Lobato de racista, esquecem de lembrar de outras facetas do autor de Jeca Tatu, símbolo do brasileiro humilde; autor que fez campanha pelo petróleo para o país, pelo valor da leitura, pela consolidação da literatura infanto-juvenil, pelos valores até mesmo ambientais, pela vasta obra que está - polêmicas à parte - incorporada ao imaginário nacional. Esquecem inclusive o título de uma de suas obras, chamada justamente O Presidente Negro, romance de ficção científica, escrito em 1926, que tem foco no ano 2228, em que o candidato negro, Jim Roy, torna-se o 88° presidente dos EUA, 220 anos depois de Barack Obama, mas prevendo essa possibilidade, claro, que visando o mercado editorial dos EUA, inspirado na obra de H. G. Wells, sobre visões do futuro. Evidentemente que Lobato foi um homem de seu tempo e foi influenciado por algumas ideias em voga àquela época, mas se formos julgar uma obra pelo perfil político, religioso, filosófico de seu autor, a maioria dos clássicos não sairia impune do crivo dos valores politicamente corretos da atualidade...
Para ampliar o contraditório, indico abaixo mais dois vídeos, lembrando que há que se levar em conta o tempo de produção de uma obra e o de recepção da mesma, e que um livro deve ser julgado pela obra em si e não pela vida de seu autor, pois se assim for, muitos do clássicos da literatura mundial, se avaliados por aspectos de sua vida íntima, logicamente, por serem humanos, terão aspectos desabonadores, se pensando o Ontem pelos olhos do Hoje.



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