quinta-feira, 13 de março de 2014

Alunos e Educadores Coletores e Fabris: Uma Odisseia no Tempo e Espaço da Educação

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O vídeo acima Primeiro Engenheiro, trata-se de cena do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, dirigido e produzido em 1968 por Stanley Kubrick (um ano antes do homem ir à Lua) e é um dos melhores filmes já feitos, pois mescla com perfeição o moderno com o clássico, o antigo e o novo, o antiquado e o inovador. Há cenas no filme dessa passagem dos primeiros primatas ao passeio em órbita, da música clássica à tecnologia dos satélites. Mas no caso específico desta postagem, o referido vídeo é meramente ilustrativo de uma fabulosa postagem feita em sua página do Facebook pelo colega José Carlos Antonio, educador educador de Santa Bárbara do Oeste, SP, Brasil e editor do blog Professor Digital, que reproduzo na íntegra (com imagem e texto), logo abaixo, sobre o que ele denomina "alunos-coletores e alunos-fabris", que serve também de reflexão sobre "professores-coletores e fabris":



ALUNOS-COLETORES E ALUNOS-FABRIS, POR JOSÉ CARLOS ANTONIO

A escola ainda não sabe ensinar seus alunos a "aprenderem como se aprende". Mas podemos lhe ensinar isso também. #Educação
Nossos alunos são "alunos-coletores" e nem chegaram ainda ao estágio de "alunos-fabris".
Deixei seis exercícios como tarefa para uma dada classe na semana anterior a do carnaval. Uma aluna "X" me manda um e-mail ontem, onze dias após a entrega da tarefa e a três dias da data de entrega, por intermédio do meu "plantão de dúvidas online", dizendo que não sabia fazer nenhum deles. Simples assim. Sem dúvidas, sem propostas de resolução, sem marcas de qualquer percurso anterior na busca de soluções.
Respondi dando novas instruções sobre o que ler, estudar e observar para que se tenha uma ideia sobre como fazê-los. Não tive nenhum retorno ainda... Desconfio que não terei e que a aluna "abandonará" a tarefa e ficará à espera de "respostas" coletadas de mim ou de outra fonte.
Não, isso não é uma crítica à aluna, mas sim ao sistema de ensino que a convenceu de que "resolver problemas é coletar respostas certas e entregá-las ao professor".
Em outra classe, outra aluna "Y", também tinha que resolver vários problemas. Para um deles ela encontrou uma resposta no Google que pensou que serviria e a entregou. Ficou brava quando descobriu que a resposta encontrada não era a do problema proposto e que o que ela deveria fazer era "construir uma solução para o seu problema" e não buscar uma resposta pronta, que nem sempre existe (na verdade, em situações realistas, elas quase nunca são encontradas "prontas").
Outra aluna "Z", da mesma classe da aluna "Y", propôs uma solução para o problema em classe. Verificamos que era uma solução possível e que, portanto, já não tínhamos mais um problema, pois agora tínhamos uma solução: o caminho para a resposta. A aluna "X" se rebelou de vez, pois agora já não tinha mais um problema e ainda tinha uma resposta que não servia antes e menos ainda serviria agora. Ela concluiu que seu trabalho de pesquisa fora inútil e que questões desse tipo, que exigem a construção de soluções, não são boas questões.
Que culpa tem a aluna "Y"? Nenhuma! Foi isso que ela aprendeu que era "aprender": dar respostas certas, encontradas já prontas, seja lá qual for a forma como elas são obtidas. E se não servirem como respostas é porque o problema está na pergunta ou em quem a faz.
E a aluna "Z" que resolveu o problema em sala? Porque não o resolveu em casa, quando poderia ter feito o mesmo raciocínio que fez em sala? Talvez porque tenha aprendido o mesmo que as alunas "X" e "Y" e somente agora lhe tenha caído a ficha de que ela mesma pode resolver seus problemas; que não precisa ser uma "aluna-coletora" e pode evoluir para uma nova raça de alunos: o "aluno-fabril", aquele que aprende a construir ferramentas (cognitivas) para resolver problemas práticos.
O ano sempre começa com uma multidão de Xs e Ys, alunos-coletores que, aos poucos, vão migrando para a espécie aluno-fabril dos Zs. É preciso ter paciência, persistência, metodologias diversas, didáticas e práticas inovadoras e, claro, um pouco de sorte para acompanhar essas transformações no tempo próprio de cada um, sem entrar em desespero. E, enquanto isso, professor... tome pragas e maldições.
Mas essa estória toda não é um desabafo, ela serve apenas para ilustrar nosso problema educacional: é preciso lutar muito para evoluir a nossa escola, que produz o aluno-coletor, para outra que produza o aluno-fabril. Imagine então a dificuldade que será criar uma escola que poderá leva-lo a tornar-se um aluno-sapiens-sapiens?
Mas é justamente isso que fazemos nós, os professores: transformamos pessoas e escolas!

Posteriormente, após comentários em sua página, José Carlos fez estes complementos:

Os professores coletores foram alunos coletores e agora reproduzem novos alunos coletores que, futuramente, podem vir a ser outro professores coletores. É preciso ir quebrando o ciclo, minando a estrutura, "transformando aos poucos". Por isso a escola é a rocha mais inercial que eu conheço.
Onde alguns veem abandono outros veem liberdade de cátedra; onde uns veem problemas outros veem desafios... Eu sempre fui do time desses "outros", por isso posso me dar ao luxo de não perder meu tempo reclamando de quem, de fato, não me governa.



BREVE REFLEXÃO DO EDUCA TUBE BRASIL:

Como bem afirma Rubem Alves: "O que marca o nascimento de um educador é ter olhos para ver o que nunca se viu." Ou se viu, não soube expressar de forma contundente e clara como faz José Carlos Antonio, em seu texto.
É público e notório que precisamos urgentemente reinventar a roda, a escola e a sociedade, para sair desse modelo de linha de produção, mecanicista e de memorização, que mesmo com o advento das tecnologias da informação e da comunicação ainda esta alicerçado no processo coletor de dados e não transformador de informação em conhecimento mútuo entre professores e alunos.
Há que se pensar e trabalhar o moderno e o clássico, e não o velho e o novo, mas o inovador e o antiquado nessa odisseia escolar, em que precisamos cada vez mais ver ela em 3D, ou seja, em suas três dimensões básicas: educacional, tecnológica e social.
Algo que vai além da discussão entre nativos e imigrantes digitais, mas de conteúdos e atividades relevantes ou descartáveis. Uma odisseia no Tempo e no Espaço Escolar que requer uma profunda reflexão.
Mais do que datashow, há que se pensar o "show datado" da mudança de equipamentos e tecnologias, mas a manutenção das mesmas metodologias para resolução de problemas tão complexos. O maior problema da educação só poderá ser resolvido pela própria educação. Não são problemas pontuais mas estruturais, que envolvem formação docente, capacitação continuada, infraestrutura, remuneração, plano de carreira, reconhecimento social, troca de experiências, avaliação e autoavaliação, crítica e autocrítica. Algo que o texto de José Carlos Antonio nos oferece, nos propõe e nos instiga...

Aproveito para recomendar, além do blog PROFESSOR DIGITAL, do colega José Carlos Antonio, outro belo texto, link abaixo:

A escola nativa digital e seus professores órfãos pedagógicos

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