domingo, 10 de maio de 2020
"O Cone do Silêncio" e a rotina de professor digital em tempos de pandemia e isolamento social e a intertextualidade com o mundo real
O vídeo acima, Agente 86 - O Cone do Silêncio, pesquisei e encontrei no YouTube, essa grande "máquina do tempo", em que se procurar se acha quase tudo, de receitas culinárias e autoajuda, de como construir uma casa ou aprender a tocar violão, de achar cenas do passado ou filme sobre o futuro, enfim, "tudo vale a pena" sua a banda larga e o HD não são pequenos...
O vídeo é uma sátira aos filmes de ação e espionagem do agente secreto 007, numa paródia intitulada Agente 86, em que Maxwell Smart é um espião muito atrapalhado que em circunstâncias supersecretas se reúne com seu chefe nessa engenhoca chamada de "Cone do Silêncio", algo que seria interessante para os professores confinados em sua casa poderem utilizar para gravar seu material didático no forma digital.
Mas, ironias à parte, o que me levou a buscar tal cena é decorrente de postagem no Facebook, sobre a dificuldade dos PROFESSORES isolados em casa, em tempo de pandemia, de gravarem suas videoaulas sem os ruídos do entorno, sejam vizinhos, visitas, barulhos diversos, nos mais variados horários. Estamos no meio de uma gravação ou de uma videoaula em tempo real, e a vizinha grita com seus filhos, alguém buzina lá fora, passa um avião, sirene de polícia ou dos bombeiros. Tudo isso parece um clipe da banda larga PINK FLOYD, como em The Wall, canção que impactou minha geração, quando éramos jovens e amávamos os Beatles e os Rolling Stones (vide clipe em questão, logo a seguir, que contém uma forte crítica a educação tradicional daquele tempo, calcada muito na memorização e nos castigos emocionais e corporais):
Retornando ao tema principal desta postagem: a gravação de videoaulas em tempos de pandemia,para quem desconhece a rotina de um professor presencial, atualmente precisando se tornar um professor digital, nada é fácil como parece, a partir da analise do resultado, justamente por essas idiossincrasias da vida em sociedade, e, principalmente, pelo fato da maioria passar muito tempo em casa, muitos deles são o mínimo de noção do espaço social compartilhado, como em condomínios, em que alguns ouvem músicas em alto e bom som pra toda vizinhança ouvir junto; outros brigam com filhos; outros fazem barulhos arredando móveis, deixando cair coisas no chão etc etc etc.
Para quem acha que um vídeo de 2 a 5 minutos, por exemplo, leva apenas esse tempo pra gravação, esquece que tal material passa depois por edição, publicação em blog, site, aplicativo e/ou plataforma institucional. Que a própria produção de material impresso pra meio digital requer planejamento de adaptação para um outro meio e mídia. Que naqueles 2 a 5 minutos, ou mais, ocorrem diversas interrupções por campainhas tocando, telefone idem, visitas suas ou em casas e apartamentos ao lado; festas de aniversário reunindo aglomerações risonhas e ruidosas, mesmo em tempos de distanciamento social etc etc etc.
Lembra muito dos comentaristas de resultado dos programas esportivos, que nunca tendo jogado, reclamam que tal jogador deveria ter passado a bola ao invés de chutar, mas que se chutasse e errasse, co criticariam, dizendo que ele deveria ter feito justamente o contrário. Na educação, não foge a essa regra, pois quem desconhece os mecanismos do ensino e da aprendizagem, deve achar que tudo é fácil, e basta sair apertando o "play", depois o "pause" e por fim o "stop" e tudo vai automaticamente para um repositório escolar.
Educação em tempos de confinamento, além da questão da adaptação e reaprendizagem do que é ser professor nesse contexto, é algo muito mais complexo e fica cada dia mais evidente para alunos, pais e sociedade que as máquinas, por mais avançadas que seja, por melhor interface gráfica que possuam, por mais sofisticado algoritmo que seja criado, jamais poderão simular com precisão a afetividade, a experiência de vida, a bagagem socioemocional e as intertextualidade do viver, que um professor pode conter. Tanto que lá nos anos 1940, Charles Chaplin, em O Grande Ditador, numa cena emblemática já dizia: "MAIS DO QUE MÁQUINAS, PRECISAMOS DE HUMANIDADE" (cena antológica que não me canso de ver e replica). E se tiver um pouquinho de silêncio, no ambiente familiar e residencial, o professor agradece.
Do cinema mudo para o com som, quantas transformações trouxeram à Sétima Arte, assim como atualmente, as TIC, mídias e redes sociais digitais, pós-pandemia, deverão ser mais integradas a fazer pedagógico, principalmente por aqueles que antes tinha receio em sua utilização e hoje as utilizam, ainda que de forma precária e experimental.
Noutro dia, por exemplo, fiz três tentativas e uma desistência de gravar uma videoaula assincrônica (remota e sem alunos) para envio ao grupo de WhatsApp da turma, como um revisional digital do conteúdo do trimestre, e, ao mesmo tempo, preparatório para o Exame do ENEM e foi bem complicada a situação: Na primeira vez, me engasguei; na segunda, uma vizinha quase surda bateu à porta de um vizinho meu que precisava gritar para ela ouvir; na terceira, a esposa no quarto (e eu na sala) atendeu fone de uma professora de sua escola e ficaram conversando por mais de meia hora. Um "cone do silêncio" nessas horas seria ideal pra ambos. Cada um podendo desenvolver suas atividades de casal educacional, trabalhando em instituições diferentes (eu numa escola particular e ela numa pública), cada qual com suas demandas.
Até pelo fato que, tenho dito faz tempo, muito antes do Covid-19: "Todo tecnologia requer uma nova METODOLOGIA". O mimeógrafo, quando substituído pelo projetor de slides, precisou uma nova forma de transição entre a folha mimeografada e escrita manualmente e os slides, já vindo prontos; da mesma forma o retroprojetor quando surgiu com suas transparência, era uma espécie de folha mimeografada para projeção; assim como o datashow e a possibilidade da criação de slides com animações, vídeos, imagens e áudios promoveu novas possibilidades de uso criativo desses recursos tecnológicos na educação.
Fica aqui, então, uma dica aos desenvolvedores e empreendedores, para a invenção de um "cone do silêncio", não apenas para esses tempos de pandemia, mas para todo professor digital que queira produzir seu material em casa, ou em algum local, mas sem a interferência do entorno barulhento de uma sociedade que cada vez mais fala muito e ouve pouco. Recordando a sabedoria oriental: temos dois olhos e dois ouvidos e apenas uma boca, justamente pra isso: pra ouvir e ver mais e falar de menos!
Um bom trabalho a todos os professores digitais que produzem seus objetos educacionais em casa, com todas essas implicações dessa situação excepcional e ainda fica algo 100sacional.
Observação: Tal postagem é o resultado de uma postagem inicial no Facebook, com o primeiro vídeo, a partir de uma troca de ideias com o colega e amigo digital, prof. Hilton Junior, professor de Física de Campo Grande (MS) Brasil. Recomendo seu canal de vídeos no YouTube com diversas animações (AQUI).
Além dele, outros colegas que têm produzido videoaulas e comentado comigo sobre essas "intempéries" e me serviram de inspiração.
Em tempo: Após publicar esta postagem, lembrei de imagem (a seguir) que minha prima Rejane me enviou para WhatsApp, de uma revista italiana, datada de 1962, de uma idealização dos veículos do ano 2022. Algo espantoso, se pensarmos no contexto de pandemia do ano de 2020. Coisas da vida imitando a arte, sem muito alarde.
Através de pesquisa adicional, encontrei a capa original da Revista Domenica del Corrieri, de 1962, e a visão futurista do ano de 2022, conforme links abaixo:
Domenica del Corriere e suas capas espetaculares
Capa de 1962 da Revista Domenica del Corrieri e sua incrível história futurista
E o interessante é que o dispositivo imaginado pela revista italiana em 1962, foi de fato criado, pois, conforme matéria acima, "[...] na década de 1990 esse dispositivo foi realmente inventado: o Segway. Desenvolvido pela Universidade de Plymouth e pela BAE Systems, o Segway foi patenteado com sucesso em 1997 como uma cadeira de rodas com auto-equilíbrio".
EM TEMPO: Posterior a esta publicação, recebi as imagens a seguir, encaminhada pelo colega e amigo José Carlos Antonio, de Santa Bárbara do Oeste (SP), Brasil e editor do blog PROFESSOR DIGITAL, em que a arquitetura e os utensílios de decoração dialogam de forma intertextual com o episódio "O cone do silêncio", do seriado Agente 86, anteriormente destacado neste blog:
Abaixo link para a reportagem em que estão as imagems, em que o designer propõe uma solução para restaurantes nesses tempos de pandemia, em que a vida imita a arte, não apenas na decoração e no design:
Coronavirus : un designer a trouvé la solution pour les restaurants
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