sábado, 3 de março de 2012

Um Sonho Possível (cinema e educação)


O trailer acima é do filme Um Sonho Possível, estrelado do Sandra Bullock, que dá muita autenticidade ao relato verídico de Michael Oher ou Big Mike, e que considero um ótimo material para trabalhar com alunos e nas formações de professores. Mais uma indicação da série CinEducação, para sugerir no menu de marcadores outros filmes que envolvem cinema e educação, didática e metodologia escolar. Filme que tem nome original The Blind Side, algo como O Ponto Cego, espaço que não é vislumbrado pelo olhar. Educar é encontrar esse spontos cegos e propor soluções...
Big Mike é um jovem corpulento e alto que tem um talento natural para os esportes, principalmente o futebol americano, entretanto, devido a uma vida de privações, sem lar, vivendo de abrigo em abrigo e fugindo sempre para encontrar a mãe drogada, acaba vagando um dia pela rua, num dia de chuva, quando a socialite Leigh Anne Tuohy, passando de carro com a família, vê aquela cena e se apieda do rapaz, levando para passar uma noite em sua casa (mansão).
Big Mike é acomodado no sofá da sala que custa a "módica" quantia de 10 mil dólares. E com o tempo acaba sendo adotado pela família de posses como se fosse um filho seu. Numa das cenas mais emocionantes, quando Leigh adapta um dos cômodos para quarto dele, com uma cama nova e pergunta se é confortável, o jovem diz que nunca teve uma cama. Leigh é bem-vinda ao mundo real de Big Mike. E a cada interação uma aprendizagem mútua... Na reunião semanal com suas amigas socialites, Leigh ao ouvir uma delas dizer que ela mudou a vida do rapaz, retruca: "Não, foi ele que mudou a minha vida". De fato, as pessoas entram umas nas vidas das outras, cada qual com o seu papel transformador. A cada interação, nunca mais somos os mesmos, cada qual transforma-se ou pra melhor ou pior, dependendo do grau de afetividade e envolvimento...
O filme Um sonho possível mostra como, apesar de todas as carências e dificuldades, é possível superar a todas, desde que se tenha um lar, uma família comprometida com o bem estar de uma criança/jovem. Com isso até certas limitações de aprendizagem são possíveis de superação em função dessa união. Comovedor quando Leigh recupera a contação de histórias para o filho menor SJ, mas visando atingir Big Mike, que nunca teve alguém para lhe contar histórias, quando menino, e isso é fundamental para desenvolver raciocínio, afetividade, imaginação e a própria aprendizagem, que nele era tão comprometida. A história escolhida não poderia ser mais apropriada: O Touro Ferdinando, uma história que conta a vida de um touro imenso, mas que adorava flores e era pacífico demais, um incrível paralelo com a vida de Oher, um imenso jovem que tirava notas baixas em todas as disciplinas, mas que tinha a incrível média de 98 em Instintos Protetores. Esta informação será ponto chave para que Leigh consiga motivá-lo a enfrentar os desafios de um esporte calcado na força bruta, conseguindo a façanha que nem o treinador do time de futebol tinha atingido. E é também uma cena emblemática, quando no treinamento do time da escola, Leigh ensina a Big Mike as posições do jogo, associando a afetividade familiar. E mais divertido e didático, quando explica ao treinador que ele precisa conhecer seus alunos/jogadores primeiro, antes de pensar estratégias de jogo. Bingo! Ponto para a educadora Leigh, a mãe adotiva do Oher. Conhecer o universo do alunado é ponto pacífico e essencial para o educador pensar didáticas e metodologias adequadas de interação, independente do ambiente, mas tendo a consciência de que espaços diferenciados (casa, sala de aula, laboratório de informática, quadra de esportes etc) requerem formas diferenciadas de interação.
Outra cena emblemática é o treinamento auxiliar, feito em casa, por seu irmão adotivo SJ, que utiliza frascos e vidros em conserva para explicar a sistemática do jogo de futebol a Oher, já que todos observam que ele tem uma percepção visual aguçada. Leigh é a primeira pessoa a descobrir que Michael joga melhor quando enxerga o que precisa fazer e por isso sempre propõe a associação visual ligada a tática a ser empregada. Talvez ai o Ponto cego a ser atingido... Educar é propor caminhos...e enfrentar os pontos cegos da própria aprendizagem.
Por fim, um fator que mostra a diferença no quesito educação... Para que Michael seja contratado por um grande time universitário, precisa obter uma média satisfatória nos estudos, o que força a família adotiva a contratar uma professora particular Donna Sue (interpretada pela talentosa Kathy Bates) para tentar essa façanha...
Em um dos momentos mais simbólicos do filme, Sean, o pai adotivo, consegue fazer com que Oher entenda e interprete uma poesia, a partir de sua declamação, fato que nem a professora particular tinha conseguido. Não podemos ser bons em tudo, contudo, para alguma coisa temos uma vocação natural... Todos somos educadores e há didáticas e metodologias que funcionam e outras não. Ter essa sensibilidade para perceber isso é fundamental ao educador do século XXI, para trabalhar de forma inter e multidisciplinar, o que favorece a supressão dos pontos cegos do saber, trabalhando coletivamente com outros educadores e colaborativamente com os alunos. Conhecer profundamente o aluno, requer tempo, paciência e muitas vezes troca de ideias com a família, os colegas e outros educadores.
Voltando ao quesito educação e seu diferencial: enquanto nos EUA, o esporte está interligado em todos os níveis escolares e para se jogar futebol americano ou outro esporte na universidade, por mais talentoso que seja, é preciso ter notas boas na escola, aqui no Brasil, muitos largam a escola para jogar bola... E a educação física ainda não é um projeto social e educacional concreto, dependendo muito de alguns educadores que fazem esse diferencial... A exceção e não a regra...
Enfim, um filme para se ver, rever, refletir, divulgar, socializar com alunos e filhos, entre professores e pais, gestores escolares e públicos e formadores de professores, e toda a comunidade escolar.
Fonte: http://youtu.be/qacQrxVl0Xo

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