terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Obsolescência Programada e a Sociedade de Consumo (documentário: Comprar, jogar fora, comprar)
O vídeo acima, trata-se do documentário COMPRAR TIRAR COMPRAR: A história secreta da Obsolência Programada, rodado na Espanha, França, Alemanha, Estados Unidos e Gana, fruto de 3 anos de investigações, e que é quase uma aula de História, tratando do conceito de Obsolescência Programada, que nada mais é do que, como o próprio nome indica, a redução a vida útil de equipamento, utensílio ou qualquer coisa fabricada para ser comercializada, já na sua origem, promovendo indiretamente o consumo e a descartabilidade.
Um ótimo material para debater na comunidade escolar sobre justamente a sociedade de consumo em que somos peças de uma engrenagem maior, e que serve como reflexão até para o processo de ensino-aprendizagem, que deve ser algo duradouro e não frágil e descartável.
O vídeo inicia com as comemorações dos bombeiros em Livermore (EUA) para a durabilidade de uma lâmpada que funciona desde 1901. Devido a esta resistência e durabilidade, anos depois, inventores e engenheiros foram forçados a criar coisas mais frágeis...
Em 1924, na cidade de Genebra (Suíça), se reúnem fabricantes de lâmpadas para reduzir tecnicamente sua vida útil... O cartel força as empresas fabricarem lâmpadas mais frágeis. Quem desrespeitasse e ultrapasse o limite imposto era severamente multado, conforme documentos descobertos por historiador. Sociedades anônimas tornando-se sociedades secretas?
Em 1940 conseguiram atingir limite de 1.000 horas de vida útil, quando poderia ser mais de 2.500, desde a sua invenção.
E a lâmpada, que fora símbolo da ideia e da inovação, acaba tornando-se simbolo da obsolência programada, conforme depoimento. Uma ideia e um conceito que nas décadas seguintes, pós-guerra, tornou-se uma instituição: da obsolescência programada, da descartabilidade das coisas e das pessoas...
As impressoras começaram a ser desenhadas para falhar... A obsolência programada surgiu junto com a produção em massa e a sociedade de consumo. "Um artigo que não se desgasta é uma tragédia para os negócios", declara um texto em jornal de 1928. As pessoas começam a comprar por consumo e não por necessidade... O conceito de Obsolência Programada surge em 1929, criado por Bernard London, como um fim para a crise que se instaurou. E mesmo passado o período da Depressão, tal conceito e seus efeitos permaneceram até a atualidade.
Atualmente as impressoras com chip são programadas para determinado número de cópias e depois são bloqueadas. Já passei por situação assim, e consegui reviver uma impressora em bom estado de conservação, mas considerada sem conserto por diversos técnicos (que também me sugeriram comprar uma nova), graças a um amigo que além de trabalhar com informática, conhecia eletrônica. Até hoje ela está em pleno uso...
Um dos momentos mais interessante do documentário é quando mostra cenas de filme britânico de 1951: The Man in the White Suit (O Homem do Terno Branco), em que um inventor é perseguido por colegas, patrões e empregados por conta de sua invenção revolucionária, que acabaria com a descartabilidade das roupas e promoveria suposta demissão em massa nas fábricas.
As cenas com as meias de nylon super resistentes, que conseguiam rebocar até um carro por outro, e que saíram de circulação justamente por isso, substituídas por meias mais frágeis, lembra-me outros dois documentários: Da Servidão Moderna e Quem matou o carro elétrico?
Em contrapartida, o vídeo sobre Obsolescência Programada demonstra como este processo é mais ocidental, pois durante a Guerra Fria, nos países atrás da Cortina de Ferro, o que era incentivado era justamente o oposto: a durabilidade das coisas, por causa da crise econômica, já que lá tudo era feito para durar o máximo possível. Irônico o jogo de palavras que fui levado a pensar: consumismo versus comunismo. Mais em sentido econômico do que ideológico, embora cada qual tenha a sua ideologia por trás de suas ações e reações.
Para finalizar, o vídeo mostra como são tratados os resíduos (o lixo eletrônico) junto ao meio ambiente, em Gana, na África, sem nenhuma reciclagem. Lixo eletrônico até de empresas que dizem respeitar o meio ambiente, pelo menos em sua publicidade.
Enfim, um documentário que me remete a outros vídeos, já destacados pelo Educa Tube, como A História das Coisas, de Annie Leonard; o desenho animado Dr. Desperdício (Mr. Waste, de 1973) da Arca do Zé Colmeia (e as minhas primeiras noções de educação ambiental, quando ainda garoto nos anos 1970) e o filme Kinky Boots (Fábrica de Sonhos) que trata também, em parte, (quando da confecção de sapatos) desta sociedade de consumo em que vivemos (vejam links e resenhas).
Conforme o referido documentário, "a sociedade do crescimento precisa motivar o consumo..." E este consumo é programado. Neste contexto, a infância é um de seus maiores focos do mercado e da publicidade, já demonstrou isso outro documentário chamado Criança, a alma do negócio.
De tudo isso, serve o consolo de que um outro modelo de civilização e de mundo é possível (e que existe tecnologia para tal, faltando justamente o caráter social), através de algumas ações como de Warner Phillips e outros mais, que mudam essa lógica perversa...
Como bem declara Michael Braungart, autor de Cradle to Cradle: "A natureza não produz resíduos e sim nutrientes". Um outro ciclo. "Nada se cria, tudo se transforma", disse Lavoisier, séculos atrás. Nós, humanos, produzimos cada vez mais lixo, fruto de um modelo consumista. Mas é possível mudar, transformar, reciclar tudo isso, desde que mude a mentalidade, a começar pelas gerações que estão vindo e que herdarão este presente (de grego).
Abaixo apresentação do vídeo no You Tube:
OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA
Baterias que 'morrem' após 18 meses de ser estreadas, impressoras que bloqueiam ao chegar a um número determinado de impressões, lâmpadas que se fundem às mil horas... Porque, apesar dos avanços tecnológicos, os produtos de consumo duram cada vez menos?
O canal 2 da Televisão Espanhola e RTVE.es transmitem "Comprar, deitar fora, comprar" um documentário que nos revela o segredo: obsolescência programada, o motor da economia moderna.
Rodado em Espanha, França, Alemanha, Estados Unidos e Gana, "Comprar, deitar fora, comprar" percorre a história de uma prática empresarial que consiste na redução deliberada da vida de um produto para incrementar o seu consumo porque, como já publicava em 1928 uma influente revista de publicidade norte-americana, "um artigo que não se desgasta é uma tragédia para os negócios".
O documentário, realizado por Cosima Dannoritzer e co-produzido pela Televisão Espanhola, é o resultado de três anos de investigação, faz uso de imagens de arquivo pouco conhecidas; junta provas documentais e mostra as desastrosas consequências para o meio ambiente que derivam desta prática. Também apresenta diversos exemplos do espírito de resistência que está a crescer entre os consumidores e recolhe a análise e a opinião de economistas, desenhadores e intelectuais que propõem vias alternativas para salvar economia e meio ambiente.
UMA LÂMPADA NA ORIGEM DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA
Edison pôs à venda a sua primeira lâmpada em 1881. Durava 1500 horas. Em 1911 um anúncio na imprensa espanhola destacava as mais-valias duma marca de lâmpadas com uma duração certificada de 2500 horas. Porém, como se revela no documentário, em 1924 um cartel que agrupava os principais fabricantes da Europa e Estados Unidos pactuou limitar a vida útil das lâmpadas eléctricas a 1000 horas. Este cartel chamou-se Phoebus e oficialmente nunca existiu porém em "Comprar, deitar fora, comprar" é-nos mostrado o documento que supõe que seja o ponto de partida da obsolescência programada, que se aplica hoje a produtos eletrónicos de última geração como impressoras ou iPods e que se aplicou também na indústria têxtil com a conseguinte desaparição das meias de vidro à prova de rasgões.
CONSUMIDORES REBELDES NA ERA DA INTERNET
Através da história da caducidade programada, o documentário pinta também um fresco da história da Economia dos últimos cem anos e aponta um dado interessante: a mudança de atitude nos consumidores graças ao uso das redes sociais e Internet. O caso dos irmãos Neistat, o do programador informático Vitaly Kiselev ou o catalão Marcos López, dão boa conta disto.
ÁFRICA, VAZADOURO ELETRÔNICO DO PRIMEIRO MUNDO
Este "usar e deitar fora" constante tem graves consequências ambientais. Como vemos neste trabalho de investigação, países como o Gana estão a converter-se na lixeira electrónica do primeiro mundo. Ali chegam periodicamente centenas de contentores carregados de resíduos a coberto duma etiqueta que diz 'material em segunda mão' e duma suposta contribuição para reduzir o fosso digital mas que acabam por ocupar o espaço dos rios ou os campos de jogos das crianças.
Mas para além da denuncia, o documentário trata de dar visibilidade a empreendedores que põem em prática novos modelos de negócio e escuta as alternativas propostas por intelectuais como Serge Latouche, que diz empreender a revolução do 'decrescimento', da redução do consumo e a produção para liberar tempo e desenvolver outras formas de riqueza, como a amizade ou o conhecimento, que não se esgotam ao usá-las.
(Tradução livre do texto de SUSANA RODRÍGUEZ 04.01.2011).
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